• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 06:51:34 -03
    Ruy Castro

    Ao alcance do braço

    12/11/2016 02h00

    Herwig Prammer/Reuters
    ORG XMIT: HPR01 Wolfgang Amadeus Mozart's original Anton-Walter-piano is pictured at Mozart's former apartment in central Vienna October 25, 2012. The piano on which Mozart wrote all of his late concertos returned home to Vienna on Thursday for the first time since the composer's death in 1791. The fortepiano that Mozart played almost daily for nine years will stand in his former Vienna home, now a museum, for two weeks, culminating in a concert of Mozart works. REUTERS/Herwig Prammer (AUSTRIA - Tags: ENTERTAINMENT)
    O piano que Mozart tocou por nove anos

    RIO DE JANEIRO - Há anos, o administrador de empresas paulistano Helio Tavares, grande colecionador de discos, encomendou um produto que acabara de sair lá fora e ele não podia viver sem. Era uma caixa, lançada pela Philips, contendo a obra completa do compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) — em 180 CDs. Não, você não leu errado. A obra construída por Mozart em seus fugazes 35 anos de vida exigia 180 CDs para ser apresentada na íntegra.

    Para a maioria das pessoas, escutar 180 CDs de um único artista equivale a um projeto de vida. A tarefa fica mais fácil se esse artista for o favorito do colecionador. Mas Mozart não era o favorito de Helio. Ao contrário, sua maior admiração é pelo finlandês Jean Sibelius (1865-1957), que viveu 91 anos, mas cuja obra, bem mais em conta, ocupa apenas 100 CDs, todos já em sua coleção. Então você perguntará: por que comprar 180 CDs de um artista que se admira, mas nem tanto?

    Porque é assim que um colecionador funciona. Se uma equipe de pesquisadores levou anos levantando a obra de um compositor e a agrupou em 180 CDs, ele se vê obrigado a prestigiar. Ao tê-los em suas estantes, o colecionador se sente tranquilo — sabe que, no momento em que for acometido de uma desesperadora urgência de escutar Mozart, bastar-lhe-á esticar o braço. E se essa urgência nunca acontecer? Não importa — ele fez a sua parte.

    Não sei se Helio leu uma assustadora notícia que circulou esta semana. Acaba de sair uma nova caixa de Mozart, agora pela Decca, em associação com a Deutsche Gramophone. Consta de 200 CDs. Alguns deles contêm peças de 10 ou 15 segundos de duração, compostas por Mozart aos cinco anos de idade. Isto, sim, é que é obra completa.

    Por que alguém compraria uma caixa de 200 CDs de Mozart se já tem uma de 180? Porque é assim que um colecionador funciona.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024