• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 19:04:56 -03
    Ruy Castro

    Charlatão honesto

    18/01/2017 02h00

    Andrew Kelly - 30.abr.2016/Reuters
    Performance de elefantes no Ringling Bros and Barnum & Bailey Circus em abril de 2016

    RIO DE JANEIRO - Depois de 146 anos de estrada, o circo americano Ringling Bros. e Barnum & Bailey vai acabar. Um dos motivos é a proibição de usar elefantes no espetáculo, finalmente imposta pelas sociedades protetoras. Se um circo não consegue sobreviver sem a escravização e tortura de animais, merece fechar. Outros, baseados na destreza, coragem e resistência humanas, continuarão. Ao Ringling, resta o consolo de que P. T. Barnum, seu inspirador, nunca será esquecido.

    Phineas Taylor Barnum (1810-1891) foi um megaoperador. Fundou ou controlou cidades, museus, faculdades, jornais, hospitais, cemitérios e até seitas religiosas. Fez tudo isso em nome de uma "filantropia lucrativa", que alguns viam como a súmula do americanismo e outros, como charlatanice, mesmo. Seu circo, em sociedade com James Bailey, surgiu de um show de anões, gigantes, albinos, siameses, mágicos, malabaristas e do elefante Jumbo, que apresentou para reis e rainhas e sobreviveu à sua morte, sendo comprado por John Ringling em 1907.

    Mas Barnum ficará mais pelo que disse e escreveu sobre propaganda. Exemplos: "A publicidade está para o produto como o estrume para a terra"; "Sem promoção, uma coisa terrível acontece —nada"; "A má propaganda não existe"; "Nada atrai mais uma multidão do que uma multidão"; "Não ligo para o que escrevem sobre mim, desde que escrevam certo meu nome"; "Se der um tiro no sol, posso acertar uma estrela"; "Meu mote: uma bunda em cada cadeira". E a mais famosa: "Nasce um otário por minuto".

    Barnum não vacilava ao vender um produto, mas este tinha de fazer jus ao que ele vendia. Só venderia um gato por lebre se o gato fosse sensacional. À sua maneira, era um charlatão honesto.

    No Brasil, os charlatões nem são honestos, nem se fazem passar por isto. Não precisam.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024