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    Ruy Castro

    Idade de dançar

    10/03/2017 02h00

    Associated Press
    ORG XMIT: 103601_0.tif Multidão em frente à Bolsa de Valores de Nova York (EUA) durante crise econômica em foto de 24 de outubro de 1929. *** People gather on the sub-treasury building steps across from the New York Stock Exchange in New York on "Black Thursday," Oct. 24, 1929. Thousands of investors lost their savings in the worst stock market crash in Wall Street history on Oct. 29, 1929, after a five-day frenzy of heavy trading. Too much speculation with borrowed money had inflated market values unrealistically. Huge buying orders, hastily erected by powerful financial interest, finally checked the most frantic sell-off experienced by the securities markets. The Great Depression followed thereafter. (AP Photo)
    Multidão em frente à Bolsa de Nova York em 24 de outubro de 1929, dia marco da Grande Depressão

    RIO DE JANEIRO - Números do IBGE afirmam que 2015 e 2016 foram os piores anos da economia brasileira desde 1930. O PIB encolheu quase 8% nesses dois anos, o que significa recessão. A comparação com 1930 é injusta. Nem naquele ano, em que o Brasil levou as sobras da Grande Depressão americana, a coisa esteve tão feia. Além disso, a atual crise brasileira não pode culpar nenhum fator externo. É coisa nossa, muito nossa, como dizia Noel Rosa.

    Mas tem, de fato, semelhanças com aquela dos EUA. Entre os fatores que levaram à quebradeira americana, estava um governo irresponsável, o do presidente Herbert Hoover (1929-1933), dado a torrar o orçamento federal, oferecer subsídios às custas do povo e sustentar milhões de pessoas com dinheiro de vento. Isso não lhe lembra alguns dos nossos governos recentes? Nos dois casos, a conta apresentada pela realidade foi a mesma —12, 8 milhões de desempregados nos EUA em 1933; 12,8 milhões no Brasil de 2017. É o quadro em que todos ficam mais pobres, e os pobres, ainda mais pobres.

    A depressão americana gerou romances como "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, "A Estrada do Tabaco", de Erskine Caldwell, e "Studs Lonigan", de James T. Farrell; os quadros de Edward Hopper; os filmes de gângster com James Cagney; e canções como "Brother, Can You Spare a Dime", com Rudy Vallee, e "We're in the Money", com Ginger Rogers —retratos típicos daquela época. A classe média foi vender maçãs nas ruas e os jovens passaram a disputar maratonas de dança para comer.

    Os EUA reagem rapidamente a tudo. Mesmo assim, sua crise levou dez anos e só se resolveu com um presidente, Franklin Roosevelt, que enfrentou a herança maldita com medidas duras e não se cercava de tipos suspeitos.

    Como já passei da idade de dançar 120 horas seguidas, acho que vou pesquisar o preço das maçãs no atacado.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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