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    Ruy Castro

    Que venham os múons

    17/03/2017 02h00

    Khalil Hamra - 20.fev.2011/AP
    ORG XMIT: XEM106 Some of the few dozen tourists touring the monuments, are seen at the Giza pyramids on the outskirts of Cairo, Egypt, Sunday Feb. 20, 2011. The pyramids were virtually deserted on Sunday, symbols of the severe blow to the tourism industry that Egypt has suffered in the wake of the upheaval that toppled President Hosni Mubarak on Feb. 11.(AP Photo/Khalil Hamra)
    Turistas passeiam pelas Pirâmides de Gizé, no Egito

    RIO DE JANEIRO - Imagine a Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. Tem 140 metros de altura, 230 metros em cada lado da base e 2,5 milhões de metros cúbicos. Dessa enormidade em seu interior, só se conhecem três câmaras. O resto —possíveis novas galerias, com colônias de serpentes, paredes com inscrições e sarcófagos de alabastro contendo mais múmias —se esconde há 4.500 anos sob a montanha de pedra. Até há pouco, e para frustração dos arqueólogos, o mistério parecia impossível de desvendar. Não mais. Um revolucionário processo de escaneamento começa a penetrar por aqueles milênios de história.

    A técnica é a da múongrafia, uma espécie de radiografia em que, em vez de raios-X, disparam-se raios cósmicos —os múons, partículas similares aos elétrons—, cuja densidade e direção em que se movem permitem "copiar" em imagens o que eles veem. Não me pergunte como. Só sei, graças a uma ótima reportagem de Sergio Matsuura no "Globo", que esses múons já vivem em paz entre nós, roçando a superfície da Terra, e que, toda noite, nosso corpo é atravessado por um milhão deles. Ou seja, enquanto você dorme, os múons varejam as suas intimidades. Pois, agora, varejarão as das múmias.

    Graças aos múons, os egiptólogos descobriram na pirâmide a existência de cavidades até então ocultas. Resta mapear o conteúdo delas.

    Em minha opinião, os múons poderiam ser úteis também na investigação das centenas de nomes apontados pelo procurador-geral Rodrigo Janot como atores do maior esquema de corrupção já visto no Brasil. Um por um ou em grupo, os bacanas seriam submetidos a esse escaneador cósmico, capaz de identificar os filamentos entre eles e determinar como e quando cada qual levou quanto e de quem para exatamente o quê.

    A simples inteligência humana não me parece suficiente para dar conta dessa tarefa.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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