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    Ruy Castro

    Chinelo velho

    01/05/2017 02h00

    Chris Pizzello/30.mar.2017/Invision/Associated Press
    Atores sobem ao palco com fantasias de leds em apresentação da Fox na CinemaCon, em Las Vegas

    RIO DE JANEIRO - Sei que sou distraído, mas não imaginava quanto. Com atraso de anos, acabo de descobrir que a gloriosa 20th Century-Fox, de Hollywood, passou a chamar-se 21st Century Fox -pelo século ter virado, pensei. Com isso, precisaram alterar o logotipo. O monumento sob os holofotes passou a dizer 21st em vez de 20th. A fanfarra composta em 1933 por Alfred Newman continua.

    Na verdade, a Fox não tinha como não mudar de nome. Tornou-se uma nova empresa, acoplada à gigante News Corporation, do magnata Rupert Murdoch, cobrindo cinema, televisão e jogos, com canais e serviços nos EUA, Europa, Austrália, Ásia, Américas e, se calhar, Júpiter. É o quarto maior conglomerado de mídia do mundo. Seu faturamento não cabe nesta página.

    Seja como for, ela é a sucessora do estúdio fundado em 1914 pelo pioneiro William Fox, a Fox Film, que logo se impôs como potência. Mas, em 1934, com o fracasso de investimentos ambiciosos (como a tentativa de implantar a na época impraticável bitola de 70mm), a Fox faliu e foi vendida para a 20th Century Films, recém-criada por Darryl F. Zanuck. Daí nasceu a 20th Century-Fox, com o indispensável hífen.

    Em suas várias encarnações, a Fox foi dona de deuses como Tom Mix, Shirley Temple, Tyrone Power, Betty Grable, a nossa Carmen Miranda, Marilyn Monroe, Paul Newman e até do Cinemascope. Quebrou de novo com "Cleópatra" (1963), renasceu com "A Noviça Rebelde" (1965) e enriqueceu com "Star Wars" (1977) -mas, então, já caíra nas mãos de aventureiros sem relação com o cinema. Tinha de acabar mesmo em Murdoch.

    Vêm me dizer que a querida 20th não desapareceu. Ainda existe, mas agora apenas como uma divisão da mamute 21st. E por que não a fecharam? Porque sua marca é famosa. Mas é só um chinelo velho que Rupert Murdoch, por caridade, hesita em aposentar.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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