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    Ruy Castro

    Falando sem dizer nada

    30/06/2017 02h00

    Renato Costa/FramePhoto/Folhapress
    O presidente Michel Temer durante cerimônia de um ano da Lei de Responsabilidade das Estatais, no Palácio do Planalto, nesta quinta
    O presidente Michel Temer

    RIO DE JANEIRO - A Feira do Livro de Frankfurt é o maior evento anual do gênero no mundo. É um encontro de editores, agentes, livreiros, distribuidores e empresários, em que títulos e autores são negociados por milhões. A feira de 2013 foi dedicada ao Brasil. Representando a presidente Dilma Rousseff na noite de abertura, falou o vice-presidente Michel Temer.

    Frankfurt tem 2.000 anos de história. Goethe nasceu lá e, ao vivo ou por escrito, quase todos os escritores germânicos tiveram a ver com o lugar: Schiller, Hölderlin, Heine, Nietzsche, Büchner, os irmãos Grimm, Arthur Schnitzler, Frank Wedekind, os irmãos Heinrich e Thomas Mann, Rilke, Hermann Hesse, Musil, Stefan Zweig, Brecht, Günter Grass.

    Em 1924, foi o berço da chamada Escola de Frankfurt, um grupo de filósofos, sociólogos, psicanalistas, matemáticos, economistas, cientistas políticos e ensaístas dispostos a entender o mundo que Marx e Freud já não conseguiam explicar. Eram cabeças como Theodor Adorno, Walter Benjamin, Erich Fromm, Wilhelm Reich, Jürgen Habermas, Siegfried Kracauer, Ernst Bloch e seus sucessores. Juntos ou separados, nunca deixaram de ditar cátedra.

    Pois foi sob o peso dessa tradição que Michel Temer fez o discurso que abriu a feira de 2013. Falou maravilhas do governo Dilma, de que era parte, e de como suas leituras de criança (Machado, Alencar, Macedo) "ampliaram seu raciocínio" e, num corte de 70 anos, levaram-no a estar ali, dirigindo-se àquela congregação. E, modestamente, confessou que, havia pouco, "atrevera-se a publicar um livro de poemas sobre sua infância". Pelo que contou, poderia ser um livro para colorir.

    Temer estava convicto de que podia exercer ali sua arte de falar sem dizer nada, como fazia no Brasil. Mas Frankfurt o reduzia a uma criança falando para adultos —e adultos alemães.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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