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    Ruy Castro

    Biografia em fascículos

    21/10/2017 02h00

    Eric Gaillard/Reuters
    Director Woody Allen poses during a photocall for the film "Cafe Society" out of competition, before the opening of the 69th Cannes Film Festival in Cannes, France, May 11, 2016
    Woody Allen durante a apresentação do filme 'Café Society' no Festival de Cannes, em maio de 2016

    RIO DE JANEIRO - Quando me perguntam por que jamais biografaria uma pessoa viva, respondo que por um motivo muito simples: porque a história dessa pessoa ainda não terminou. Um biografado vivo é um perigo —nunca se sabe quando ele cometerá algum pecado ou façanha que desmentirá tudo que os livros diziam sobre ele. O caso clássico é o de Woody Allen.

    Em 1991, o escritor Eric Lax publicou sua elogiada "Woody Allen - Uma Biografia", em que descrevia um artista adorável que, por ser um gênio do cinema, podia ser tão excêntrico quanto quisesse. Um ano depois, Woody trocou sua longa relação com Mia Farrow pelo casamento com uma filha adotiva desta, Soon-Yi, 35 anos mais jovem do que ele e que Woody conhecia desde criança. Mia não deixou barato: acusou Woody de ter abusado sexualmente de outra filha de ambos, Dylan, de sete anos, e pôs sua filharada em peso contra ele.

    Woody tornou-se o tarado, o pedófilo, o inominável. Inocente ou não —não vamos entrar no mérito—, sua biografia por Lax melou num instante. Não que o biógrafo tivesse de adivinhar o futuro, mas algo parecido com aquilo já devia estar no passado de Woody, e por que ele não viu?

    Corte para 2017. Lax está de volta com novo livro sobre Woody, "Start to Finish: Woody Allen and the Art of Moviemaking". E este contém uma revelação explosiva: a de que Mia Farrow era uma tirana, uma bruxa, fisicamente cruel com os filhos e obrigou Dylan a dizer que Woody a molestara. As afirmações são de Moses Farrow, outro filho adotivo de Mia e Woody, e que até há pouco, como seus irmãos, era contra ele.

    Se Lax quiser chegar à verdade definitiva sobre Woody, deveria publicar sua biografia em fascículos. São mais fáceis de atualizar. Sabe-se lá se, daqui a seis meses, não acontece outra reviravolta e Woody destroca Soon-Yi pela própria Mia?

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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