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    Ruy Castro

    Chá com Menescal

    23/10/2017 02h00

    Divulgação
    O compositor Roberto Menescal em 1998
    O compositor Roberto Menescal em 1998

    Roberto Menescal, compositor, músico e nome da primeira água da bossa nova, fará 80 anos nesta quinta. Muitos de seus colegas daquele tempo já se foram: Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Lucio Alves, Sylvinha Telles, Luizinho Eça, Luiz Carlos Vinhas, Oscar Castro Neves, Os Cariocas, Maysa, Baden Powell, Milton Banana, Lennie Dale, Aloysio de Oliveira, Elis Regina, Tom, Vinicius. Um dia, todos esses gigantes estavam vivos, ativos e fazendo música na mesma cidade.

    Mas não faltará quem ajude Menescal a soprar as velinhas. Encerrada a fase histórica da bossa nova, ele se reciclou como produtor, dirigiu a gravadora Polygram e ajudou a revelar toda uma nova geração. Depois disso e até hoje, com seu selo Albatroz, tem provado que, mesmo em segredo, ainda se produz música no Brasil. E é também das pessoas mais generosas que conheço. Sua ajuda para meu livro "Chega de Saudade", em 1990, foi decisiva. Dedicou-me horas de seu tempo, cedeu-me fotografias e passou-me nomes, endereços e telefones de muita gente que só ele sabia.

    Certo dia, em 1988, fui ao seu apartamento, em Ipanema, para pegar algum recorte ou foto. Menescal comandava uma enorme mesa de sucos, leite, chá, chocolate, bolos e biscoitos, preparados por Yara, sua mulher. Estavam cercados de filhos, sobrinhos e amigos dos filhos. Não era aniversário de ninguém, apenas um fim de tarde normal de domingo na casa de uma família feliz.

    Eu vivia então entre casamentos, na esbórnia, e não tinha do que me queixar. De repente, bateu-me uma nostalgia da caretice, algo talvez associado à infância. Perguntei-me se, quem sabe, a felicidade não consistiria de chá e biscoitos em família num fim de tarde de domingo.

    Mas durou só um momento. Peguei o material com Menescal e saí correndo, de volta à dissipação, antes que fosse tarde demais.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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