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Quadro do desenho animado "Branca de Neve e os Sete Anões" |
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Thursday, 02-May-2024 20:34:06 -03Ruy Castro
Bolha e careta
16/12/2017 02h00
RIO DE JANEIRO - "Branca de Neve e os Sete Anões", o filme de Walt Disney, completa 80 anos e, pela primeira vez desde a estreia, em 1937, enfrenta uma saraivada de críticas à sua concepção –hoje considerada machista, degradante para a mulher e imprópria para menininhas que, no futuro, serão molestadas por tarados montados em cavalos brancos.
E só porque, depois de tapeada por sua madrasta, a Rainha –que, transformada numa bruxa, deu-lhe a comer uma maçã envenenada–, Branca de Neve repousa lindamente morta num caixão de vidro até ser ressuscitada por um príncipe que, não se sabe como, sentiu-se no direito de beijá-la na boca. De fato, a ideia da donzela expectante, à espera do príncipe encantado, é um insulto à mulher moderna e dona de seu nariz.
Bem, quero dizer que concordo com tudo isso e que desde tenra infância achei Branca de Neve uma pateta. Minha favorita sempre foi a Rainha e, toda vez que assisti ao filme, torci para que ela quebrasse aquele espelho míope que ousava desqualificar sua beleza.
Há uma história com tintas de lenda sobre a produção de "Branca de Neve" que poderia tornar a personagem, digamos, mais "moderna". A menina em quem Disney teria se baseado para criar o rosto de Branca de Neve seria uma garota de sete anos, chamada Annie, que visitava casualmente o estúdio com sua tia, a cantora Ella Logan. Anos depois, essa garota se tornaria a supercantora Annie Ross, cuja carreira no jazz seria do balacobaco.
Em 1949, Annie, que era branca, namorou o baterista negro Kenny Clarke, um dos inventores do bebop, teve um filho com ele e encarou o preconceito. Depois, ficou dependente de heroína. Por fim, teve um caso com o humorista maldito Lenny Bruce. Ou seja, se quisesse, Branca de Neve teria a quem puxar e não estaria sendo agora tachada, com razão, de bolha e careta.
É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
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