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    Samuel Pessôa

    Erros no debate previdenciário

    25/06/2017 02h00

    Segundo o técnico do Ipea Milko Matijascic, numa publicação em blog da internet, a minha afirmação de que "a necessidade da reforma [previdenciária] é que o montante do gasto de 13% do PIB (Produto Interno Bruto) é absolutamente fora de padrão para economias com taxa de dependência de 13%", na coluna de 26 de março, "comete sérios equívocos e não ajuda a promover um debate rigoroso".

    A informação de que o gasto com Previdência em 2016 foi de 13% do PIB encontra-se na apresentação que o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) fez na CPI da Previdência no dia 22 de maio de 2017.

    Segundo o presidente do Ipea, os gastos previdenciários foram de (todos os dados em percentagem do PIB): 0,7% para os municípios, 2,5% para Estados e Distrito Federal, 1,8% para a União e 8,1% para o INSS, totalizando 13,1% do PIB. Se o benefício assistencial for incluído, chegaremos a 13,8%.

    Em março de 2008, os colegas de Milko do Ipea Roberto Rocha e Marcelo Caetano publicaram o "Texto para Discussão" número 1.331, em que documentam que, de 2001 até 2006, o gasto previdenciário incluindo assistência subiu
    de 10,1% do PIB para 11,8%.

    Essa evolução do gasto previdenciário extrapolada até 2016 é coerente com o dado do presidente do Ipea de 13,8% para 2016.

    Milko talvez pudesse promover debate interno no Ipea sobre esses números. Os especialistas do tema no Ipea produziram os dados que eu reportei em minha coluna.

    No entanto, o maior erro de Milko foi esconder do leitor de seu post no blog a informação mais importante. Para o leitor acompanhar essa tediosa pendenga, relembro que Milko criticou a seguinte afirmação minha: "A necessidade da reforma [previdenciária] é que o montante do gasto de 13% do PIB é absolutamente fora de padrão para economias com taxa de dependência de 13%".

    Essa afirmação tem duas informações: gastamos 13% do PIB com Previdência e temos uma taxa de dependência de 13%. Milko em seu post se esqueceu da segunda informação. Taxa de dependência é a razão entre a população idosa, isto é, com mais de 65 anos, e a população em idade ativa, entre 20 e 64 anos.

    Quando comparamos gastos previdenciários de diferentes países, é necessário considerar as diferenças de taxas de dependência, algo que Milko não faz na sua tabela 3. Segundo Milko, a Itália gasta 18% do PIB. Meu número, baixado do site da OCDE, é 15,8%.

    De qualquer forma, Milko não informou o leitor de que a Itália tem razão de dependência três vezes superior à nossa. A diferença de dois pontos de percentagem empalidece ante o fato de nossa razão de dependência ser 1/3 da italiana.

    Em minha coluna de 13 de março, apresento o gráfico que nos compara com os países da OCDE, controlando-se pela taxa de dependência. Esse gráfico atualiza o gráfico 1 do texto de Rocha e Caetano. Sob qualquer critério, estamos
    totalmente fora da norma.

    Será que Milko consegue encontrar sociedades com taxa de dependência de 13% que gastem 13% do PIB com previdência ou algo próximo disso?

    samuel pessôa

    É físico com doutorado em economia, ambos pela USP, sócio da consultoria Reliance e pesquisador associado do Ibre-FGV. Escreve aos domingos.

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