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Colunistas
Tuesday, 07-May-2024 03:23:59 -03Samuel Pessôa
A recuperação continua
03/12/2017 02h00
Na sexta (1º), o IBGE divulgou o resultado do desempenho da atividade econômica referente ao terceiro trimestre. O crescimento foi de 0,1% em comparação ao segundo trimestre.
Quando comparado com o terceiro trimestre de 2016, a alta foi de 1,4%. Desde o quarto trimestre de 2016, sempre comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento foi de, respectivamente, -2,5%, 0,0%, 0,4% e 1,4%. Ou seja, a retomada é sólida. Para o quarto trimestre, esperamos crescimento de 0,1% ante o terceiro e de 2,2% ante
o quarto trimestre de 2016.Os números do terceiro trimestre nos fizeram revisar a estimativa de crescimento de 2017 de 0,9% para 1% e para 2018 de 2,5% para 2,7%.
Aparentemente, o crescimento da economia de 2017 para 2018 será bem brando. De 1% para 2,7%. Mas esse número é enganador. Em 2017, o crescimento da agropecuária será de 12%. Dado que ela representa
5% da economia, essa fortíssima recuperação do setor adicionará 0,6 ponto percentual na economia. Ou seja, o crescimento da economia em 2017 excluindo a agropecuária
será de 0,4 ponto percentual.Para 2018 prevemos que a agropecuária recuará 2%. Nada muito dramático, visto o excelente desempenho em 2017 e a natural volatilidade do setor. De toda forma, o avanço da economia excluindo a agropecuária, a confirmar a alta de 2,7% em 2018, será de 2,8%. Ou seja, nossos números preveem que a economia excluindo agropecuária acelere de 0,4% em 2017 para 2,8%. Nada mal.
É verdade que a recuperação tem ocorrido bem mais lentamente
do que as recuperações cíclicas das últimas décadas. Por exemplo, em 2000, após o difícil ano de 1999, crescemos 4,3%. Em 2004, após o baixo crescimento de 2003, crescemos 5,7%. Finalmente,
em 2010, crescemos 7,5%.Dois fatores explicam recuperação cíclica tão branda. O primeiro é o impasse político que vivemos. Temos um brutal desequilíbrio fiscal cuja expressão aritmética é uma dívida pública como proporção da economia que cresce de forma
explosiva. Se nada for feito, caminharemos para inflação. E nada tem sido feito. Nosso Congresso nem aprova medidas que elevem os impostos nem reformas que reduzam o gasto. Vivemos um impasse.O segundo motivo que explica a fraca recuperação é que no atual episódio a economia está muito machucada. Houve inúmeros investimentos em diversos setores -indústria naval, cadeia de óleo e gás, construção civil, indústria automobilística, etanol, setor elétrico, entre outros- que geraram endividamento das empresas sem capacidade de geração de caixa. Os investimentos foram malfeitos, e levará tempo
para que sejam digeridos.Assim, uma recuperação mais
robusta da economia provavelmente dependerá do que ocorrer no processo eleitoral em 2018. Esperemos pelo melhor. Que vença alguém comprometido com a arrumação da casa fiscal e que simultaneamente tenha, de alguma forma, negociado com a sociedade essa arrumação.-
Há um mês foi divulgada gravação feita há mais de ano em que o jornalista William Waack fala frase ofensiva e infeliz. Apesar dos eventuais excessos, o movimento politicamente correto nos civiliza.
A humanidade tem melhorado.Waack já se desculpou e enfrentou sérias consequências, como o afastamento até agora das suas funções e o abalo da sua imagem pública. O que não faz sentido é ficarmos privados do trabalho e do talento de um dos jornalistas mais bem preparados
de sua geração. Todos perdem.É físico com doutorado em economia, ambos pela USP, sócio da consultoria Reliance e pesquisador associado do Ibre-FGV. Escreve aos domingos.
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