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    Sérgio Dávila

    Construção e ruína

    27/01/2013 03h30

    SÃO PAULO - A cidade de São Paulo sofre de deficit de atenção, e a causa são seus prefeitos.

    O roteiro é conhecido. Na campanha, os postulantes dizem que as iniciativas boas do atual ocupante do cargo terão continuidade. Escolhido o vencedor e passado o bastão, quase tudo recomeça do zero, a um custo enorme de dinheiro e, principalmente, de tempo para o cidadão.

    Na semana passada, Fernando Haddad (PT) decidiu engavetar o projeto Nova Luz, por alegada inviabilidade financeira.

    Embora as discussões em torno do que fazer com essa área degradada do centro da cidade datem de pelo menos o meio da década de 1970, a fase atual do plano teve início em 2005, na gestão de José Serra (PSDB).

    Nos anos seguintes, durante a administração Kassab (PSD), os estudos do projeto drenariam R$ 14,6 milhões. Houve um vaivém jurídico sem fim, inúmeras discussões. Só na Folha, foram publicados mais de 400 textos sobre o assunto. Tudo em vão.

    O atual prefeito também deve rever a política mais restritiva em relação aos camelôs, outra bandeira do antecessor. (Espera-se que não mexa na Lei Cidade Limpa, cartão-postal urbanístico da gestão anterior, de grande sucesso e ótimos resultados.)

    Em novembro passado, foi lançado o plano "SP 2040 - A Cidade que Queremos". É uma iniciativa coerente de planejamento urbano, ousada por privilegiar metas realistas no lugar de pirotecnias, em par com o que se faz nas metrópoles mais avançadas.

    Suprapartidário, contou com consultores internacionais, especialistas da USP e uma grande equipe eminentemente técnica, não política. Mas, até 2040, São Paulo terá visto passarem pelo cargo entre três e seis novos prefeitos. O SP 2040 deve ter o mesmo destino do Nova Luz e de tantos outros bons projetos, sejam petistas ou tucanos.

    Em São Paulo, como na letra de Caetano --não a de "Sampa", mas a de "Fora da Ordem"--, tudo parece que ainda é construção, mas já é ruína.

    sérgio dávila

    É editor-executivo da Folha. Foi correspondente nos EUA, onde cobriu o 11 de Setembro e a eleição de Barack Obama. Foi o único repórter brasileiro no início da Guerra do Iraque.

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