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    Sérgio Dávila - Euclides Santos Mendes

    Facebook, ame-o ou deixe-o

    21/07/2013 03h30

    SÃO PAULO - Na sexta-feira, o Facebook censurou um texto noticioso da Folha publicado na página que o jornal mantém na rede social e na qual tem 1,76 milhão de simpatizantes.

    Falava da manifestação de um grupo pró-passe livre em Porto Alegre e mostrava foto de protesto em que pessoas apareciam nuas. Procurada pelo jornal, a empresa não quis explicar a censura.

    O Facebook é, hoje, o terceiro "país" do mundo em "população", com 1,1 bilhão de usuários, 73 milhões deles no Brasil. Pois este "país" é uma ditadura, que pratica censura prévia e póstuma. Sem explicações.

    Espiona também seus "cidadãos", como mostrou o austríaco Max Schrems, em entrevista à Folha. Ele venceu uma ação contra a empresa, que teve de exibir tudo o que tinha arquivado dele: um dossiê de 1.222 páginas, algumas com e-mails que ele pensava ter deletado para sempre.

    E divide o que sabe de seus "cidadãos" com "governos amigos", como fez com o serviço de espionagem dos EUA pelo programa Prism, segundo revelou o britânico "Guardian".

    Não sou um ativista anti-Facebook. Sou "cidadão" desde 2005, quando estudava em Stanford e a rede mal tinha evoluído de sua origem –ajudar nerds a classificar rostos (daí o "face" do nome) como bonitos ou feios.

    Mas tenho discutido aqui se devemos nos entregar a essa "rede social" sem questionar suas práticas e sua ética. Como numa seita, muitos não querem nem ouvir falar disso.

    Um apresentador de TV que respeito insinuou que o "mimimi" da "grande mídia" com o Facebook era inveja. Uma amiga e ex-editora da Folha disse que, com tantas objeções, o jornal não deveria estar ali.

    "O espírito do Facebook é ame-o ou deixe-o?", provoquei, citando um dos slogans da ditadura militar (1964-1985). Ela respondeu que, "se há tantas restrições sobre a postura empresarial das redes, me parece, sim, um ame-o ou deixe-o".

    Não amo, nem deixo. E continuarei a questionar.

    sérgio dávila

    É editor-executivo da Folha. Foi correspondente nos EUA, onde cobriu o 11 de Setembro e a eleição de Barack Obama. Foi o único repórter brasileiro no início da Guerra do Iraque.

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