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    Sérgio Dávila

    Calor e luz

    19/01/2014 03h01

    SÃO PAULO - Pela primeira vez, Barack Obama citou Edward Snowden pelo nome. Foi na sexta, quando fez uma prestação de contas pro forma sobre o alcance da arapongagem norte-americana. "Não vou me alongar sobre as ações ou motivações do sr. Snowden. Mas direi que nosso sistema de defesa depende em parte da fidelidade daqueles a quem foram confiados os segredos de nosso país."

    Para ele, a discussão sobre se o ex-prestador de serviços da CIA é herói ou traidor levantou um debate que "tem gerado mais calor do que luz".

    O presidente respondia a setores da opinião pública que pedem perdão ao ex-analista de inteligência, exilado na Rússia. Em 2013, o delator revelou ao mundo a invasão de privacidade sem precedentes de pessoas e países feita pela NSA, o leviatã da espionagem americana.

    O ministro da Justiça de Obama já escrevera ao colega russo pedindo extradição. Na carta, afirma que o ex-técnico não será condenado à morte nem submetido a tortura -curiosa época a nossa, em que os EUA têm de prometer à Rússia que não torturarão um prisioneiro.

    Snowden tem três opções. Continuar em Moscou, o que ele não quer; conseguir asilo em outro país, e aqui o Brasil tem sua preferência; ou voltar para casa e sofrer as consequências.

    O caso a favor do asilo brasileiro não é fraco. Snowden é uma fonte jornalística tão importante quanto a que revelou o Watergate. Mas parece pouco provável que Dilma compre essa briga.

    Sobra a volta aos EUA. Um juiz já entendeu que com seus atos o governo viola a 4ª Emenda da Constituição, que proíbe buscas arbitrárias. Críticos dizem que se Snowden viu algum malfeito deveria ter levado a seus superiores, não ao público.

    O seu julgamento, se acontecer, pode provocar a regulamentação e o redimensionamento por governos e empresas de tecnologia do uso de ferramentas de invasão de privacidade. Um debate com calor e luz, eis o verdadeiro legado de Snowden.

    sérgio dávila

    É editor-executivo da Folha. Foi correspondente nos EUA, onde cobriu o 11 de Setembro e a eleição de Barack Obama. Foi o único repórter brasileiro no início da Guerra do Iraque.

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