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    Sérgio Malbergier

    Crise anuncia o novo mundo

    05/08/2011 07h00

    A volta da crise econômica que na verdade nunca foi embora do Hemisfério Norte ocorre num cenário mundial muito diferente do de 2008-2009 justamente porque foi transformado dramaticamente por ela.

    A crise global dos anos 00 foi a primeira crise das últimas décadas na qual as economias antes ditas periféricas, emergentes ou qualquer outro redutor ocidentalista se saíram melhor que as economias centrais.

    Agora que a percepção da crise volta a derrubar os mercados em hola global, as economias antes chamadas emergentes aparecem de novo muito mais sólidas que as economias mais desenvolvidas .

    O medo dos mercados é todo nascido e alimentado no mundo rico. Nos EUA, o pessimismo vem de dados macroeconômicos sombrios, principalmente de emprego. Na Europa, a desconfiança dos mercados já atinge países relevantes como Espanha e Itália, e o sistema de moeda única nunca foi tão questionado.

    Num espírito oposto, Brasil, China, Indonésia, Peru, Turquia, Vietnã, Colômbia e muitos outros vivem boom econômico com dezenas de milhões de cidadãos ingressando na classe média e criando mercados internos robustos com dinâmicas muito positivas de longo prazo graças a processos históricos de liberalização econômica.

    No caso brasileiro (e de outros países), além do dinamismo interno, nosso crescente atrelamento à economia chinesa, condenável em tantos aspectos, também amortece os efeitos do declínio do eixo do Atlântico Norte

    As operações na América do Sul e na Ásia têm sido as estrelas dos balanços das multinacionais, responsáveis por parte crescente dos ganhos dessas companhias globais. O HSBC anunciou com o último balanço demissões pesadas no Hemisfério Norte e contratações na Ásia e no Brasil. Ontem, no meio do sangue dos mercados, a Bloomberg TV entrevistou o presidente da DirecTV para a América Latina, que mostrou o impressionante crescimento das suas vendas na região, enquanto nos EUA e Europa esse mercado está saturado há anos. É isso.

    Americanos e europeus viveram uma era dourada de inédita e, agora sabemos, insustentável prosperidade.

    Os americanos, alavancados por uma bolha imensa de crédito, consumiram como se não houvesse amanhã, mas ele chegou. Os europeus, protegidos no guarda-chuva da União Européia, distribuíram benefícios sociais e econômicos sem que tivessem receita para isso, e o dia do balanço chegou.

    Enquanto isso, aqui no Sul, estávamos corrigindo erros econômicos históricos e promovendo a liberalização.

    A emergência do Sul não significa uma decadência inevitável do Norte, muito pelo contrário. EUA, Europa e Japão seguem sendo países muito mais avançados economicamente que os emergentes emergidos.

    Mas há uma transformação importante em curso, uma transferência de força econômica do Norte para o Sul que já se transforma em transferência de poder político.

    O século 21 vai redesenhar o mapa do mundo, essa crise já nos deixa ver.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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