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    Sérgio Malbergier

    Grevistas levantam para Dilma cortar

    23/08/2012 03h33

    O mais chocante é o que menos choca. O Brasil é tão tolerante que promoveu nesta semana o dia da fronteira livre. Justamente na Tríplice Fronteira Brasil-Paraguai-Argentina, apontada como centro internacional de contrabando, tráfico de armas, lavagem de dinheiro e outras coisas. Os grevistas da Polícia Federal simplesmente deixaram trânsito livre na Ponte da Amizade que liga o Brasil ao Paraguai. E ficou por isso mesmo .

    Que país permitiria a grevistas abrirem impunemente a fronteira, ainda mais uma fronteira tão complicada? O que será que passou pela Ponte da Amizade (rebatizada de "ponte muy amiga") naquelas muitas horas de livre acesso ao território brasileiro?

    O superintendente da PF da região negou que a fronteira estivesse escancarada, mas as TVs locais entraram com reportagens da Ponte da Amizade mostrando ao vivo que as portas do Brasil estavam abertas.

    As fronteiras liberadas e os bloqueios impunes das estradas, do comércio internacional, do abastecimento de remédios, da emissão de passaportes, das salas de aulas mostram como os sindicatos cresceram na era do Partido dos Trabalhadores.

    Mas se há coerência nas relações carnais PT-sindicalismo, o custo para o país começa a aparecer com mais desenvoltura na temporada de greves dos federais 2012. Acostumados com a leniência de Lula, os grevistas buscam deliberadamente causar o maior incômodo possível aos brasileiros a arrancar o máximo de concessões.

    Escrevi aqui há duas semanas que Dilma não seria nossa Margaret Thatcher, que quebrou o sindicalismo britânico ao defenestrar o sindicato dos mineiros durante longa greve. Mas desde então nossa dama de ferro deu sinais de endurecimento com os grevistas, anunciando que o ponto seria de fato cortado, abusos seriam punidos e as propostas salariais seriam moderadas. A ver.

    Dilma cada vez mais traça linhas divisórias entre seu governo e o de seu antecessor-criador. E isso é muito natural: seu único rival político hoje no Brasil é Lula. Só Lula pode impedi-la de chegar ao segundo mandato, conquistando oito anos de mandato e a oportunidade de consolidar um legado. Mas Lula enfraquece cada dia que passa longe do poder. E, como apontou o primeiro voto do ministro do STF Ricardo Lewandowski ontem, a Era Lula deve sair arranhada do julgamento do Mensalão.

    Dilma até agora teve sorte e competência para atingir seus gloriosos índices de aprovação. Mesmo com o desenvolvimentismo entregando pibinhos dois anos seguidos, o ânimo da população está alto, pois renda e emprego seguem robustos. Sem implosão europeia, o pior da crise econômica pode ter passado por aqui, e Dilma deve acabar o primeiro mandato crescendo o dobro do que cresceu até aqui.

    Há a economia, há a festa da Copa do Mundo brasileira em 2014, há o fato de ela ser mulher, de ela não ser Lula, há sua imagem de dura e menos tolerante com a tolerância brasileira, há o Mensalão manchando o antecessor-rival. E há ainda a grande chance de conquistar de vez os corações e mentes da classe média (nova e velha) brasileira endurecendo com os grevistas federais.

    Dilma foi reeleita pela revista "Forbes" nesta semana a terceira mulher mais poderosa do mundo, atrás de Angela Merkel, a primeira-ministra alemã, e Hillary Clinton, a chanceler americana (Cristina Kirchner é só a 16ª). A cadeira de presidente no Brasil é um trono poderoso. Ela já está mais forte do que ele. E a distância só vai aumentar com um combate duro à greve dos servidores federais. É uma grande oportunidade na estrada para 2014.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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