• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 07:02:10 -03
    Sérgio Malbergier

    O momento Dilma, ou não

    13/12/2012 08h13

    O PT sempre quis antes de tudo o poder. Não se vexou em lutar contra o Plano Real, por exemplo, a base seminal da estabilidade brasileira, para que isso não garantisse, como garantiu, oito anos de poder ao PSDB.

    Claro, o petista de boa fé quer o poder porque acha que só assim o Brasil dará certo.

    Os oito anos da Era Lula só aumentaram essa fé. Mesmo tardia, a adesão do PT ao capitalismo, comandada pelo ex-líder sindical e seu imenso carisma, sua história de vida espetacular, seu pragmatismo, sua comunicação direta com os brasileiros, seu entendimento de nossas desgraças, desculpe, me empolguei com as qualidades do Lula, essa tardia adesão ao capitalismo liberou, isso sim, o espírito animal do empresário e do trabalhador brasileiro.

    Encontramos o caminho da prosperidade consolidando o consenso nacional em torno da democracia e da economia de mercado depois dos governos complementares de FHC e Lula. E viramos queridinhos do mundo globalizado, que infelizmente nos superestimou. Pois atolamos de novo.

    Estamos no momento mais complicado dessa virada pelo que Lula não pôde ou não quis fazer: aprofundar as reformas econômicas e depurar a política e a gestão do Estado.

    Sob Dilma, a economia quase parou e a crise ronda a relação dos Três Poderes, base da governança nacional.

    Com Lula nas cordas, lutando pelo seu legado, e Dilma avessa à política, os riscos de uma grande crise nunca foram tão grandes desde o impeachment de Collor.

    Se Dilma partir para o diálogo e para a costura, será sua grande oportunidade de estadista. Se alinhar-se à ala dura do PT, pode acabar com o país radicalizado e argentinizado, com o governo atacando Judiciário, mídia, setores empresariais, institutos econômicos...

    O ponto culminante dessa crise viria com uma eventual investigação judicial do ex-presidente Lula.

    O PT já ensaia um embate maior com o Judiciário desde as duras condenações dos mensaleiros no Superior Tribunal Federal.

    Se o STF determinar a cassação automática dos parlamentares condenados e o Congresso resistir, como seu presidente petista da Câmara vem pregando, o quadro se agrava. Nesse cenário contaminado, a rejeição das contas de campanha de Fernando Haddad com o marqueteiro João Santana, duas estrelas do PT, pode ter repercussão maior. E uma investigação sobre Lula levaria a situação ao extremo.

    A conjuntura pede um(a) estadista, um grande articulador e moderador. Dilma seria capaz de assumir esse grande papel ou seria tragada pela ala dura do PT ou pelo antecessor-criador?

    Logo saberemos.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024