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    Sérgio Malbergier

    Israel surpreende o mundo

    24/01/2013 10h15

    A expectativa global era de que os israelenses, seguindo a teoria de sua inevitável radicalização, daria a nacionalistas extremistas uma vitória arrasadora nas eleições deste ano.

    Mas a torcida dos que querem ver e retratar o Estado judeu como colonialista desumano foi frustrada. A democracia israelense corrigiu o rumo que o premiê Bibi Netanyahu e seus aliados à direita sinalizavam para o país.

    Netanyahu deve seguir no cargo após as duras negociações para formar maioria parlamentar, mas seu partido encolheu e o novo partido nacionalista Casa Judia, contrário ao Estado palestino, teve desempenho aquém do projetado.

    Já os partidos de centro e mais à esquerda tiveram bom desempenho, puxados pelo partido centrista Há Futuro, criado pelo William Bonner local, e o país se dividiu ao meio entre o bloco de centro-direita liderado por Netanyahu e o bloco de centro-esquerda.

    Obviamente, o maior eleitor dos extremistas israelenses são os extremistas palestinos que não perdem uma chance de mostrar intenções genocidas em relação a Israel. Pesquisas de opinião apontam sistematicamente que cerca de 65% dos israelenses apoiam a criação de um Estado Palestino que viva em paz ao lado de Israel. Mas proporção semelhante acha que a solução de dois Estados não pode ser implementada agora pela sensação de que não há parceiro confiável para sementar a paz do outro lado, ou melhor, dos outros lados, pois o conflito israelense-palestino se mistura com o conflito árabe-israelense.

    De fato, hoje não há um interlocutor palestino capaz de negociar a paz com autoridade. A mais moderada Autoridade Nacional Palestina de Mahmoud Abbas governa a Cisjordânia, e o grupo extremista islâmico Hamas, que não aceita a existência de Israel, manda em Gaza.

    Mesmo quando essa liderança era mais unificada, sob Iasser Arafat, os palestinos rejeitaram a melhor proposta apresentada por Israel e EUA, que previa a devolução de praticamente todos os territórios ocupados. A resposta palestina foi a sangrenta Intifada, com ondas de homens-bomba explodindo em ônibus, pizzarias, qualquer lugar. Depois, Israel deixou a faixa de Gaza unilateralmente, mas o Hamas deu um golpe violento contra a ANP de Abbas e transformou a região em base de lançamento indiscriminado de foguetes contra Israel.

    Em cima de tudo isso, os vizinhos árabes, sempre governados por ditaduras, quando finalmente começam a caminhar para alguma democracia, elegem, no caso do Egito, a Irmandade Muçulmana, um grupo extremista islâmico que inspirou de Bin Laden ao Hamas. O novo presidente egípcio inclusive pouco tempo antes de eleger-se chamou publicamente, sem pudor ou constrangimento, os judeus em geral e os israelenses de "descendentes de macacos e porcos", como está escrito no Alcorão.

    O conflito Israel-Palestina não é na sua essência um conflito entre israelenses e palestinos, mas entre israelenses e palestinos radicais contra israelenses e palestinos a favor da paz.

    O problema é que os radicais estão no poder em Gaza, no Egito, no Líbano com o Hizbollah, e podem assumir o poder na Síria quando a sangrenta revolta contra a ditadura Assad acabar.

    Diante disso, a reação de Israel é construir muros para tentar se isolar desse mundo árabe em desarranjo e, parecia a muitos pronto para eleger seus próprios radicais.

    As eleições desta semana, porém, mostraram mais uma vez que democracias tendem à paz. Esperemos que algum dia o mesmo acabe acontecendo do outro lado dos muros.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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