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    Sérgio Malbergier

    Argentina 1 x Brasil 0

    14/03/2013 03h00

    O Brasil é o maior país católico do mundo. São 123 milhões de católicos brasileiros contra 36 milhões de católicos argentinos. E quando a Igreja Católica finalmente escolhe um papa não europeu, do Sul, da América do Sul, escolhe logo um argentino, apesar de um cardeal brasileiro ter sido apontado como favorito e apesar de o grande rebanho nacional estar sendo comido pelas bordas pelos evangélicos.

    Pode ser um erro geopolítico da Igreja de Roma, mas, assumindo meu complexo de vira-latas, o Brasil pode ter sua parte de culpa.

    Somos a sétima maior economia do mundo, a quinta maior população do planeta e um dos maiores produtores de carnes, grãos, carros, top models, craques de futebol, grande música, entre outras grandezas. Para o bem e para o mal, somos ainda um modelo de tolerância, nossa maior contribuição específica.

    Mas falta algo ao Brasil para o Brasil brilhar não só por sua força e beleza brutas, mas também por sua fina inteligência, pelas capacidades mais sofisticadas que a civilização brasileira produz. Produz?

    Apesar de tanta gente e tanta riqueza, nunca produzimos um Nobel (a Argentina já tem cinco), raramente ganhamos prêmios artísticos internacionais relevantes, nossa produção de patentes é modesta, nossa liderança global está muito aquém do potencial. E agora um papa argentino.

    Não acredite na propaganda oficial, há algo errado por aqui.

    Passamos séculos excluindo a massa brasileira da civilização brasileira. Desde a colonização, apenas uma minoria teve acesso a educação e a condições mínimas para desenvolver seu potencial. Uma minoria minúscula que herdou dos colonizadores-catequizadores aversão ao povo e adoração pelas metrópoles limitadora de nossa originalidade.

    Como dizia o antropólogo Claude Lévi-Strauss da elite paulistana com quem conviveu nos anos 1930, quando veio lecionar na recém e tardiamente criada USP: "Pensam que são europeus, mas não sabem como são típicos".

    Do Plano Real para cá as coisas começaram a mudar. A racionalidade econômica e o consenso em torno da democracia e do capitalismo finalmente abriram o processo de inclusão-ascensão das massas. Lula, o primeiro presidente pobre do Brasil, colocou o pobre no centro do Brasil. O número de estudantes universitários, por exemplo, explodiu. Mas os cursos acessíveis ainda são ruins. Estamos apenas no começo do começo. A entrada de dezenas de milhões de brasileiros no mercado consumidor é muito pelo passado que tivemos, mas pouco para o futuro que queremos.

    E de uns dois anos para cá, as coisas estão melhorando muito mais lentamente. Os próximos passos são mais difíceis do que os passos anteriores.

    Se ganhássemos o papado, aumentaria nossa confiança. João Paulo 2º fez milagres pela Polônia. Mas os argentinos levaram.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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