• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 05:39:42 -03
    Sérgio Malbergier

    A solução é o problema

    28/03/2013 03h00

    No Brasil, onde não tem dinheiro, não tem política.

    Um pastor notório por declarações anti-homossexuais e racistas foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e de lá não sai.

    Já a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Dilma foi abandonada pelo PMDB em troca da secretaria de Aviação Civil porque, como dizia seu antigo ocupante, ali não tem verba nem para eleger vereador.

    O problema é que o Brasil é um país de brutal desrespeito aos direitos humanos, racista e antiminorias.

    Neste quadro, se tivéssemos um Congresso funcional, a secretaria dos Direitos Humanos e Minorias seria um instrumento seminal para combater os execráveis desrespeitos humanos. Mas ninguém na classe política dá muita bola para isso. Não tem verba, não tem impacto em possíveis doadores de campanha. A presidência da secretaria assim caiu nas mãos de um pequeno partido pela falta de interesse dos grandes.

    E num país do remendo e do casuísmo econômico, onde gargalos travam a riqueza e a ausência de grandes projetos estruturantes e executáveis para desenvolver nossos enormes potenciais são tão necessários quanto inexistentes, a Secretaria de Assuntos Estratégicos deveria ser cobiçada e prestigiada.

    Lula, o pai do modelo político do vale-tudo pela manutenção e exercício do poder (a mãe foi seu antecessor, FHC), chegou a chamar a Secretaria de Assuntos Estratégicos de "Ministério do Futuro".

    Mas não.

    O futuro e os direitos humanos foram jogados às traças.

    O PT é um partido curioso. Fez tudo o que dizia que não faria e não fez nada do que dizia que faria. E assim conquistou a hegemonia política no Brasil.

    Teve um lado bom: fechou o consenso nacional em torno do capitalismo que sempre renegou e assim destravou o país. Mas por outro lado nos deu essa lama política simbolizada num Congresso liderado e povoado de suspeitos e condenados pela Justiça.

    Um Estado que trabalha para grupos de interesses escusos e ao arrepio da lei não é um Estado democrático, apesar das eleições e da imprensa livres. Esse status quo --aceito por FHC e por Lula-Dilma-- no qual os políticos são deixados a arrepiar (desde que estejam do nosso lado) como preço da "governabilidade", onde o problema se tornou solução, pode ser mortal às aspirações de alto desenvolvimento do país.

    O país do futuro que parecia virar país do presente pode acabar como país do passado, como potência fracassada.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024