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    Sérgio Malbergier

    Torcendo contra o Brasil

    25/04/2013 01h40

    Espero que o governo não tenha visto o pessoal torcendo contra o Brasil no jogo de ontem entre Brasil e Chile na inauguração do novo Mineirão. É o típico fenômeno capaz de provocar acusações iradas de "pessimismo especializado" ou "torcida contra".

    Mas como não ser pessimista nem, por revolta, torcer contra? O Brasil desde 1950 tem engasgado na garganta a derrota no Maracanã na final contra o Uruguai. A Copa de 2014 é a única oportunidade que teremos no futuro próximo de desatar este nó e soltar o grito de campeão do mundo dentro de casa. E o que fizemos com essa oportunidade? Jogamos fora.

    Sabemos que o Brasil sediará a Copa do Mundo desde outubro de 2007. Um país mais organizado usaria esse tempo para dar máxima eficiência à preparação da seleção. Mas o técnico Felipão assumiu o comando do time (logo depois de levar o Palmeiras ao rebaixamento) a apenas um ano e meio da Copa e disse que começaria o trabalho do zero. E no zero ficamos. Em cinco jogos, Felipão só ganhou um, contra a Bolívia. Desde 2009 não ganhamos de uma seleção grande, e nunca antes na história do país ocupamos lugar tão baixo no ranking da FIFA: 19º, e isso antes do empate com os chilenos.

    O melhor do jogo de ontem, depois da placa "Galvão, cuidado com a dengue em BH", exibida pela Globo, foi a torcida gritando olé quando o Chile tocava na bola e vaiando quando a seleção brasileira jogava.

    Afinal, o povo não está tão anestesiado assim, ou pelo menos aquela elite que pode pagar ingressos para os jogos da seleção.

    Mas um fracasso na Copa terá repercussões muito maiores e pode ser muito ruim para a candidatura Dilma. O PT, tão eficiente para identificar oportunidades e sentimentos populares, comeu bola justamente na paixão nacional. Acomodou-se com a estrutura privada da CBF, e o resultado vimos ontem, na inauguração com o pé esquerdo do novo Mineirão.

    O atraso institucional, empresarial e esportivo do futebol brasileiro é o retrato do pior do Brasil, um alerta sobre o preço que pagamos pela nossa natural complacência com a ineficiência e a mediocridade, manifestação clara da falta de foco e da lógica inversa de que a abundância de recursos torna desnecessário o desenvolvimento dos recursos ou permite desperdiçá-los.

    O futebol é o velho Brasil, endividado, opaco, ineficiente, injusto. Todo mundo sabe que os times precisam se tornar empresas bem geridas por executivos espertos. Com a paixão do torcedor e o aumento da renda do brasileiro, as possibilidades de vendas são ilimitadas.

    Ruim fora de campo, ruim dentro de campo. Basta ver os jogos das semifinais da Copa dos Campeões da Europa neste mês para entender como ficamos para trás e como as chances de tirar a Copa dos europeus seria difícil mesmo com uma boa seleção.

    Escrevi nesta coluna em maio de 2010 que o Brasil não ganharia a Copa daquele ano na África do Sul dada a mediocridade do técnico Dunga, que antes de ser convocado para a seleção jamais tinha atuado como técnico!

    Agora, já dá para saber com mais antecedência. Não ergueremos o caneco no ano que vem. Espero estar errado, mas, estando certo, que pelo menos o fracasso suba à cabeça e provoque uma mudança total no futebol brasileiro. Menos que isso será pouco.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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