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    Sérgio Malbergier

    #eufui (#eagora?)

    20/06/2013 03h00

    Não entendo quem não entende o que está acontecendo nas ruas. Uma coisa todos hão de concordar: o melhor jeito de entender a rua é ir para a rua. Mas que político teria coragem hoje de enfrentar os indignados? Os gritos eram de "sem partido!", e nenhum político apareceu. Nenhum.

    Estive em duas passeatas, ou melhor, protestos até aqui, pelo circuito Faria Lima-Marginal Pinheiros-Paulista, o quinto e o sexto ato. A sensação é estupenda, ver tanta gente nas ruas, ou melhor, tomando as ruas, em paz, alegres, diversas, empoderadas apenas pela compartilhada indignação. Que se mostrou forte o suficiente para parar o país.

    Os aumentos do ônibus foram o estopim perfeito. A passagem ficou cara, o serviço é ruim, havia movimento estruturado de luta (o do passe livre). Mas não é o preço do ônibus, é muito mais.

    A liga que juntou a multidão foi a indignação contra basicamente tudo, antiestablishment. Mas o establishment político. Surpreendentemente, ou não, a bandeira anticapitalista estava ausente. A UNE foi hostilizada, enquanto engravatados à la mercado participavam tranquilamente do protesto.

    Se o Brasil tem bandeiras unificadoras, elas são o combate à corrupção e a eficiência do Estado. Quanto mais o movimento se desviar delas, menor será.

    O sistema político não acompanhou o salto econômico do país, a não ser em gastos e receitas. As maiores manifestações políticas deste século no Brasil sintomaticamente não têm políticos. São, basicamente, contra eles.

    Dados os últimos anos, décadas e séculos, a pergunta não é o que está acontecendo, mas por que só agora? Se tardio, o timing pelo menos foi poético, em plena Copa das Confederações. Ou, como dizia um cartaz, "copa das manifestações".

    Imagina na Copa?

    O gigante acordou, como gritavam na rua. A dúvida é se voltará a dormir ou se encontrará caminho novo, que contorne a política. Mas é possível contornar a política? Não. E aí começam os problemas. É possível reformar os políticos? Sim. E aí começam soluções.

    A nova mobilidade e a nova comunicação fortalecem o cidadão como nunca antes, como estamos vendo. As formas de fiscalização e pressão são infinitas. Causas não faltam, nem alvos.

    Mas não será fácil, existem riscos conhecidos e desconhecidos.

    Quem saiu às ruas das metrópoles e das pequenas cidades mostrou desejo e força de transformação. Falta um caminho. O recuo rápido no preço das passagens é uma pequena vitória a ser transformada em grande começo.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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