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    Sérgio Malbergier

    #VaiDilma

    12/09/2013 03h00

    A crise de espionagem entre Brasil e EUA ganha dinâmica perigosa e fica vulnerável a um jornalista americano, justiceiro e vingativo, num momento importante das relações internacionais do país.

    Presidida pelo PC do B (aquele partido comunista-governista que outro dia declarou "total, irrestrito e absoluto apoio" à Coreia do Norte), já temos até uma CPI pedindo acesso a todos os documentos sigilosos dos EUA e planos de proteção policial ao jornalista Glenn Greenwald, que teve o namorado brasileiro detido em Londres por algumas horas.

    Um circo, no qual Dilma ameaça tocar fogo caso cumpra a ameaça de cancelar a visita de gala em outubro à Casa Branca diante da injustificável espionagem americana.

    Se a presidente pensasse fora da caixa (ou da lona), veria que o único antídoto para o saldo zero de sua política externa até aqui é o fortalecimento das relações com os EUA, um movimento que ela própria sabiamente chegou a esboçar.

    Como o artigo/carta a Dilma escrito por Julia Sweig nesta Folha coloca singelamente, seria grande o impacto da imagem de Dilma e Obama jantando juntos na Casa Branca, passeando pelo Rose Garden com Michelle, usando a primeira visita de Estado do Brasil aos EUA em muitos anos como oportunidade de resolver uma crise e avançar de forma histórica no relacionamento bilateral.

    Seria um marco, uma marca. É a grande chance de Dilma no cenário global, sua inovação, seu legado.

    Dilma não fez nada em política externa até agora. Ela desfez algumas coisas, que é uma forma de fazer, mas o legado até aqui é nada. Ou quase. O que pode até ser avanço diante do ativismo equivocado que a precedeu.

    Com Lula e seu hiperativo chanceler Celso Amorim, o iconoclasta da Embafilme, o Barretão do Itamaraty, nossa política externa ganhou voz, ancorada pela ascensão econômica do Brasil (e dos outros emergentes). O velho esquerdismo terceiro-mundista foi reenergizado pelo carisma folclórico de Lula, o sindicalista barbudo dos trópicos tornado líder nacional e mundial, nosso Vaclav Havel, nosso Lech Walesa que deu certo.

    Tudo isso contaminado pela ambição intensa de Amorim e a sombra do assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, cargo criado por Lula, uma polaridade bem-vinda com o Itamaraty, não fosse seu único titular o petista Marco Aurélio Garcia, eterno representante da antepenúltima via.

    Vá para Washington, Dilma. Seus marqueteiros sabem que o país que nós brasileiros amamos e amamos odiar no caso de alguns são os Estados Unidos.

    É com eles que devemos nos comparar, com todo respeito a Bolívia, Venezuela e Argentina.

    Dizem que Chico Buarque disse ter ficado feliz pelo Brasil hoje falar grosso com os EUA e fino com a Bolívia. Isso pode parecer legal numa música setentista do grande compositor, mas não faz o menor sentido hoje em nossa política externa.

    Vai, Dilma, vai.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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