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    Sérgio Malbergier

    A culpa de cada um

    19/09/2013 03h00

    Joaquim Barbosa, de pé, sua capa de Batman, apoiado na poltrona preta de presidente como se fosse pedestal ou púlpito, troca determino por proponho ao propor de surpresa sorteio imediato do relator do segundo ato do Mensalão: um "da capo" com elenco renovado, e espera-se, ritmo mais acelerado.

    Ricardo Lewandowski, o mocinho ou o vilão da história, dependo de que lado você está nesse Fla-Flu, imediatamente entra com argumento protelatório, mas é superado.

    Antes, entrando no prédio, o porteiro comentou, ao ser provocado sobre o Mensalão, que no Brasil só vão presos os três Ps: "pretos, pobres e prostitutas".

    É nesse contexto que há muito conteúdo no desempenho de Barbosa na alta corte, sua fala irascível, sua determinação, sua denúncia permanente do status quo. É personagem que não deve sair da história, goste-se ou não. O Brasil precisa de disruptores.

    Se vamos sair desse pântano secular, precisamos de tração popular. Quando a classe média foi às ruas no longínquo junho, o gigante parecia acordar, mas voltou a dormir rapidamente.
    A decisão do STF muda isso?

    A nova batalha da Guerra do STF virou uma corrida contra o tempo, com dois cronômetros, o eleitoral e o penal, e ênfase mais no tempo jurídico que nos méritos jurídicos, mais nos dias do que nas leis.

    Depois de mais de um ano de julgamento, dezenas de sessões e centenas de horas gastas no mais longo julgamento da história do STF, é infringente notar que tanta demora ao final favorece réus de forma determinante, inclusive a enorme diferença entre pena em regime fechado ou semiaberto (que sintomaticamente não se chama semifechado).

    Nos EUA, como comparação, o então governador democrata do poderoso Estado de Illinois Rod Blagojevich foi detido por corrupção pelo FBI em dezembro de 2008. Julgado em liberdade, foi sentenciado a 14 anos de prisão em dezembro de 2011, três anos depois.

    No Brasil, foram sete anos entre a denúncia-confissão de Roberto Jefferson nesta Folha em junho de 2005 até a abertura do julgamento. De julgamento, já foi um ano, mas pode chegar até 2015, como profetizou o ministro José Dias Toffoli em entrevista a Fernando Rodrigues em junho último, para, então, espanto de muitos.

    Se a responsabilidade (culpa?) pela demora cabe só ao Supremo, a culpa pela lerdeza geral é de todos. As perspectivas de desenvolvimento são, como sempre, moderadamente moderadas. Caminhamos, bovinamente, a passos de cágado, voando como galinhas, para um futuro brilhante. Pequenos saltos intercalados por longas depurações e muitos obstáculos.

    E o destino do Mensalão e mensaleiros não fará diferença. A revolução não será televisionada pela TV Justiça. Todos os dias novas denúncias de corrupção em diferentes governos de diferentes partidos em diferentes instâncias e repartições deixam claro que o julgamento pode ser histórico, mas não transformador do modo de operar do sistema político brasileiro.

    A coisa só vai mudar se você voltar para a rua. As manifestações populares eram contra a corrupção, a ineficiência do Estado e todos os partidos políticos. Mas todos eles, em seus programas de TV, já as endossaram e clamam representá-las.

    Então, não ponha a culpa nos outros. Está em suas mãos.
    Se você não se mexer, nada vai acontecer.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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