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    Sérgio Malbergier

    O fim do socialismo

    03/10/2013 08h34

    O socialismo aceita tudo. As boas intenções de criar uma sociedade justa e igualitária num mundo injusto e desigual é o canto da sereia que seduz muitos navegantes e leva invariavelmente, mais cedo do que tarde, ao desastre e ao atraso.

    Só o capitalismo salva, como até o Brasil, o mais lento dos países dinâmicos, percebeu quando Lula abraçou a economia de mercado e destravou o potencial do Brasil potência.
    Mas tem ainda muito socialista no mundo. Alguns bens intencionados, outros, oportunistas, mas todos errados.

    Desde a queda do Muro de Berlim, o colapso da União Soviética e a abertura capitalista chinesa iniciada já no final da década de 1970, o socialismo recua pelo mundo. Menos na América Latina, o que diz enciclopédias sobre a nossa pobre região.

    O tal socialismo do século 21 lançado pelo caudilho Hugo Chávez na Venezuela renovou a ilusão por aqui, junto, como sempre, com a truculência e o maniqueísmo do "nós estamos certos e podemos tudo, vocês estão errados e concordem, fiquem quietos, ou sofram as consequências".

    Chávez, claro, estava sentado em reservas intermináveis de petróleo no momento em que o preço do produto bateu recordes, e ainda hoje, mesmo após ele ter deteriorado a produção do país, ainda rende cerca de US$ 100 bilhões por ano tendo os Estados Unidos como principal cliente.

    Com esse dinheiro todo, o chavismo distribuiu renda, criou sua internacional socialista, aqui tropicalizada como bolivarianismo, e passou a exportar a revolução com dinheiro, petróleo subsidiado e, dizem os onipresentes espiões americanos, armas a grupos guerrilheiros.

    Assim pequenas Repúblicas centro-americanas, Cuba, Bolívia, Equador e mesmo a outrora progressista argentina aderiram e de alguma forma adotaram princípios (ou a falta de) do bolivarianismo: intervenção estatal, pressão sobre a imprensa, culpa de estrangeiros pelos males no país, corrupção, poder concentrado no caudilho carismático e seus círculos, antiamericanismo, cerceamento da oposição, manipulação da Justiça e do processo eleitoral.

    Uma receita que só pode dar errado.

    Mas nem todo o dinheiro venezuelano bastou para segurar a própria economia venezuelana, claro, porque dinheiro sem boa gestão não faz nada além de encolher. E o país mergulhou em inflação e estagnação produtiva. As desapropriações e os ataques contra o empresariado venezuelano e estrangeiro mataram qualquer espírito empreendedor, e no país hoje falta de papel higiênico a luz nas casas, com filas nos supermercados e racionamentos como na época da União Soviética.

    A morte de Chávez nesse contexto foi o último prego nesse caixão. O chavismo hoje sobrevive como farsa sem graça em Caracas. Seu substituo, o anticarismático Nicolas Maduro, em poucos meses virou piada nacional.

    Primeiro, caiu de bicicleta diante das câmaras de TV. Depois, em pronunciamento ao vivo para a nação, trocou "peces" (peixes em espanhol) por "penes" (pênis na língua de Cervantes). Virou piada agravada pela calamidade econômica e o dólar em disparada no câmbio negro, e pode sofrer golpe interno dos linhas-duras do regime.

    O Brasil, claro, ficou longe disso. Não porque aqui não temos socialistas bem e mal intencionados em profusão ou um povo pobre e com pouca educação suscetível a suas falsas promessas.

    O que nos salvou foi Lula. O grande feito do petista, na coluna do bem, foi justamente ter anulado a esquerda brasileira ao abraçar o capitalismo e consolidar o Brasil como uma economia de mercado democrática.

    Sua sucessora, Dilma, como Maduro na Venezuela, não tem nem um décimo de seu carisma. Mas se iludiu com o poder do Estado, adotando uma visão estatizante da economia que assustou os empresários, afastou investimentos e tirou do país aquele fértil sentimento de que tínhamos finalmente encontrado o rumo da prosperidade.

    O capitalismo de Estado de Dilma, como mostra a capa da revista "Economist" desta semana, pode ter estragado tudo, mas jamais seremos bolivarianos. Aqui também os socialistas recuam, como prova a tentativa, tardia e desastrada, do governo brasileiro de privatizar as obras de infraestrutura que é incapaz de realizar.
    Venezuela e Argentina realizam eleições neste ano. Os venezuelanos elegerão prefeitos em dezembro. Os argentinos terão eleições legislativas em outubro. Tanto o chavismo como o kirchnerismo temem derrotas históricas.

    Pode ser o começo do fim desses regimes, o fim de um ciclo que travou o desenvolvimento regional. Uma coisa está certa: o socialismo do século 21 não sobreviverá à segunda década do seu século.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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