É alentador ver o coro petista elogiando a privatização da infraestrutura e dos recursos naturais do Brasil. Reflita: foi o lulo-petismo que exterminou a esquerda brasileira ou a direita que cooptou o lulo-petismo?

As privatizações do campo de petróleo no pré-sal, de rodovias e dos aeroportos do Galeão e de Confins neste final de ano provam não só que os petistas praticam bem a privatização como também não têm o menor pudor em usá-las como bandeira, desde que tenham outro nome.

O discurso oficial triunfalista em relação às privatizações ressalta o fracasso das políticas econômicas do governo Dilma. Ela só teve sucesso justamente quando caminhou para o lado oposto de sua crença. Ao final, foi a presidente que teve de engolir os empresários e os mercados, não o contrário. Virão deles os recursos e a capacidade operacional para recuperar a confiança e o investimento no país, até desenvolvimentistas, encabulados, admitem.

É uma evolução, mas insuficiente para recuperar três anos perdidos com teses econômicas ultrapassadas e preconceituosas que gastaram boa parte de nossa credibilidade e abalaram nossos fundamentos: o PIB encolheu, o superávit da balança comercial e o investimento sumiram, o medo da inflação renasceu, a segurança fiscal derreteu...

A deterioração é tamanha que há quem veja tempestade perfeita se aproximando do Brasil no ano que vem, com mudança na política monetária americana provocando fuga aguda de recursos, mais deterioração fiscal e nas contas externas, alta do dólar, repique inflacionário, colapso acionário...

Como não existe previsão econômica perfeita, o pessimismo parece exagerado. Mas traz consigo outra ironia brutal: a necessidade do governo mais esquerdista do Brasil de agradar as agências de avaliação de risco americanas, símbolos do capitalismo financeiro global, que balizam os investidores do mundo todo e já condenam a gastança federal.

Eleito pela esquerda, o governo Lula foi conduzido pela direita, principalmente na área econômica. Foi só com Dilma que a estadolatria finalmente conseguiu abrir a caixa de ferramentas e operar a economia com força e gana nunca vistas neste país.

É um fracasso inegável, que ao menos tem o mérito da clareza. Fez até Dilma concluir que só a privatização salva o seu governo. O resto é Bolsa Família, Minha Casa Melhor e muito marketing.