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    Sérgio Malbergier

    Tropicalizaram os black blocs

    13/02/2014 03h00

    O reality show da prisão de Caio Silva de Souza, o falso black bloc, ontem no "Jornal Nacional" mostrou a cara dos "terroristas" brasileiros.

    Com fome, com sono, duro, sua louca escapada da Cidade Maravilhosa para Ipu, no Ceará, casa de seu avô, foi interrompida em Feira de Santana, interior da Bahia. Com retrato estampado em TVs, jornais e web sites, Caio decidiu se entregar e entregar em TV nacional revelação explosiva: manifestantes mascarados recebem dinheiro para causar choque e pavor.

    Quase chorando, tonto, lento, Caio parecia tudo menos um terrorista na tela da TV. Um rebelde vencido, um mercenário social, um assassino? Não um terrorista.

    O relato que ele e seu midiático advogado fizeram é de uma operação tosca de recrutamento de jovens para cometer atos de violência nas passeatas, financiada por facção política do Rio de Janeiro. Uma acusação tão grave quanto verossímil.

    Segundo a versão apresentada, kombis distribuíam perto dos protestos máscaras, explosivos e R$ 150 para que manifestantes mercenários vandalizassem o que vissem misturados aos black blocs puros.

    Até isso nosso subdesenvolvimento moral conseguiu: colocar os anárquicos black blocs, antistablishment e anticapitalistas, a serviço da escumalha da política brasileira, sempre oportunista e inovadora.

    Difícil acreditar que a polícia do Rio e de outros Estados, após tantos meses de investigações, não tivessem já evidências da cooptação de manifestantes, da qual muito já se falava. Como tudo no Brasil, da economia ao futebol, foi preciso acontecer o pior (morte do cinegrafista da Band) para se fazer algo efetivo (prisão de suspeitos) além das loucuras de sempre (lei antiterrrorista).

    A súplica de Caio diante do cinegrafista da Globo não poderia ter sido mais pungente e desesperada: A polícia e a imprensa têm que investigar isso, eu tenho muito medo deles, vou falar tudo o que sei, mas quero proteção, eles podem me matar, me protejam.

    Caio foi encaminhado para o notório presídio de Bangu. Não lhe faltarão medo nem motivos para colaborar. Máscaras podem cair.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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