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    Sérgio Malbergier

    A mudança para trás do PT

    08/05/2014 02h00

    O mercado é por natureza antecipador. Ganha mais quem consegue antecipar viradas e tendências. Ou quem consegue convencer os outros da iminência de viradas e tendências, que não necessariamente ocorrerão.

    No momento, no mercado brasileiro, tem gente ganhando dinheiro com a expectativa de derrota governista nas eleições deste ano. Vésperas de divulgação de pesquisas eleitorais viraram período fértil para boatos sobre queda de popularidade de Dilma, que animam os investidores.

    Quanto pior a situação de Dilma, maior o valor dos ativos brasileiros, desde empresas listadas na Bolsa até a cotação do real. Ninguém quer ficar de fora da tão ansiada virada do mercado, que viria com o fracasso da presidente nas urnas. A premissa é a de que uma vitória da oposição impedirá Dilma de fazer mais estragos na economia e injetará confiança para a retomada do crescimento. Como a maioria dos brasileiros, o mercado quer mudança.

    Cerca de 70% dos eleitores afirmam querer ações diferentes do próximo presidente, segundo o Datafolha. Já o "Valor" realizou votação nesta semana entre líderes empresariais que participaram de evento do jornal e os resultados foram impressionantes: 69,9% votaram em Aécio Neves, Eduardo Campos teve 16,5% e Dilma ficou com apenas 2,9%.

    Esse desejo nacional de renovação une a pirâmide social. Ninguém aguenta mais tanta ineficiência, tanta corrupção, tanta violência, tantas carências num país tão rico. O discurso da elite se aproxima do discurso das massas, criando um desafio enorme para o PT.

    O partido ensaia o tortuoso discurso de que Dilma representa a mudança e são seus críticos que não as querem. É um discurso que não tem lógica. O PT está no poder desde 2003. Até os brilhantes marqueteiros do partido terão dificuldade para convencer o eleitor de que mudar o país passa por reeleger a mesma presidente do mesmo grupo que está no poder há mais de uma década.

    Não vai colar.

    Restarão o populismo explícito e o "vamos pra cima" de Lula. A mudança que o PT está promovendo, portanto, é nele mesmo. E é uma mudança para trás, não para frente. Ele está voltando a ser aquilo que deixou de ser quando assumiu o poder. Tanto que muita gente dentro do próprio partido pede uma nova carta aos brasileiros de Dilma, para dizer que o PT continua não sendo aquele antigo PT.

    Eu sei, é difícil de entender.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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