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    Sérgio Malbergier

    Dilma explica não explicando

    05/06/2014 02h00

    Está explicado. A presidente Dilma candidamente admitiu que não consegue explicar o crescimento pífio da economia brasileira. Se ela não sabe explicar o problema, dificilmente saberá resolvê-lo. E essa acaba sendo a melhor explicação para o crescimento pífio da economia brasileira.

    Não dá para explicar, disse ela em encontro com jornalistas estrangeiros nesta semana, segundo relato da agência Reuters. Todas as condições apontam para o Brasil não só crescendo, mas crescendo bem, disse a presidente.

    Dilma poderia ao menos explicar quais condições apontam para um Brasil crescendo bem. A confiança dos empresários despenca e leva junto os investimentos. A inflação resiste apesar da forte alta dos juros, mostrando que o custo de combatê-la aumentou. A indústria recua, incapaz de competir num mundo ultracompetitivo. As contas externas pioram, expondo fragilidades. Cai o consumo das famílias, motor do crescimento e da popularidade da Era Lula.

    Vamos crescer numa média aproximada de 2% ao ano sob Dilma, o terceiro pior momento econômico da história do Brasil, só melhor que o de Fernando Collor e Floriano Peixoto.

    Fico imaginando que imprensa a presidente lê. Porque as explicações para o marasmo econômico aparecem todos os dias nos jornais e são em grande parte atribuídos ao intervencionismo do seu governo.

    É fácil de explicar, mas difícil de entender, porque a presidente decidiu mudar a condução da economia justamente no momento em que o país crescia com vigor nunca antes visto na história recente deste país, com PIB de 7,5% em 2010.

    Apesar disso, Dilma decidiu mudar de direção. Criou até uma nova matriz econômica, trocando o viés liberal à brasileira do antecessor pelo seu estatismo à brasileira. Mas é preciso governar com os empresários, não contra eles. É preciso garantir o lucro e o retorno dos investimentos, ou não há investimento.

    As dezenas de milhões de empregos criados no Brasil desde a eleição de Lula em 2003 não foram criados pelo governo, mas por empresas privadas que confiaram e investiram no Brasil depois que o primeiro presidente petista, de forma brilhante e retumbante, abraçou o capitalismo (e com isso destravou o país).

    Dilma e seus economistas acharam que sabiam e podiam mais. Não deu certo. Nunca dá. Essa constatação deveria ao menos servir de lição. Mas Dilma não dá o braço a torcer. Diz agora que não entende por que o Brasil não cresce, deixando todos os que entendem ainda mais preocupados. Se ela não admite que errou, persistirá no erro?

    Dilma e o governismo comemoram que vai ter Copa, que vai ter aeroporto. Comemoram que não vai ter racionamento, que não vai ter epidemia de dengue. Comemoram como conquistas a não ocorrência de catástrofes aventadas por causa de fracassos do seu próprio governo.

    Ela poderia ao menos explicar o seu próximo governo. As expectativas são muito negativas, e a presidente-candidata não se esforça para revertê-las, como até seu criador e antecessor vem pedindo.

    Lula teve a humildade e a inteligência de lançar sua Carta aos Brasileiros em junho de 2002, dizendo que não faria as loucuras que muitos achavam que faria.

    Se, de novo, Dilma não fizer como Lula, vai piorar antes de melhorar. E já está ruim.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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