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    Sérgio Malbergier

    Saudades da Copa

    03/07/2014 10h21

    A Copa ainda nem acabou, mas como deixa saudades. Esses dois dias sem jogos foram de um vazio atroz. A conta é desesperadora: faltam só oito jogos. E isso contando uma partida que não conta, a que define o terceiro e o quarto lugar.

    Daqui a dez dias, o mundo vai embora, deixando a vida sem graça e nós com nossos nós. Que pareciam desatar, mas foram apertados de novo. E se a Fifa gerisse o Brasil? Teríamos um país padrão Fifa ou uma Fifa padrão Brasil?

    O fato é que esperamos tantos anos para sediar o torneio, enfrentando todo o baixo astral da preparação, e agora que começou esta cara festa, ela já está acabando. Dá vontade de chorar, como nossos jogadores. Outra alegria como essa só daqui a décadas.

    O pior momento da vida do boleiro é o apito final de uma Copa do Mundo. O próximo apito inicial levará quatro anos. E quatro anos na era das conexões super-rápidas são mais tempo do que quatro anos quatro anos atrás.

    O mundo anda tão acelerado que de uma Copa para outra tudo muda. Dentro e fora do campo. O jeito de as seleções jogarem evolui rápida e homogeneamente, já que quase todos os jogadores e técnicos atuam na mesma escola, a escola Fanje (futebol de alto nível jogado na Europa).

    É uma escola de alto nível técnico, de alto nível físico, de alto nível competitivo e de alto nível salarial. Os jogos das oitavas de final e provavelmente todos daqui por diante mostram um equilíbrio absurdo entre seleções tradicionais como Brasil, Alemanha, Holanda e Argentina e aspirantes como Chile, Argélia, Suíça e Costa Rica.

    Não existem mais os grandes favoritos. Com a capacidade física incrível dos jogadores, capazes de correr muito e preencher quase todos os espaços do campo, o espaço foi para o espaço. Times jogam em bloco e em bloqueios.

    O Brasil deu azar em ter Felipão como técnico. Com seu humor dilminiano, ele impõe um clima duro, tenso, que, combinado com a pressão enorme do país e do governo em chuteiras, trava a seleção. Até o Neymar, símbolo da nossa grande tradição artística, já fala em ganhar de meio a zero.

    Eu prefiro a seleção de 1982, do imortal Telê Santana, com Zico, Sócrates, Falcão, Junior e Leandro, degolada de cabeça erguida em nome do futebol arte. Ah se aquele Mundial tivesse sido aqui. Teríamos levado o caneco e levado o Brasil ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído _o lugar da arte. Mas ficamos com o futebol resultado, o futebol força, como todos os outros times.

    Viramos commoditie até no que éramos artistas. Nesse sentido, fracassamos na nossa Copa. Imagina no Campeonato Brasileiro.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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