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    Sérgio Malbergier

    Por uma Constituinte do futebol

    10/07/2014 09h14

    Meu complexo de vira latas voltou. Não foi o Brasil que atingiu a excelência do nosso futebol, foi o nosso futebol que sucumbiu à mediocridade nacional. Ficamos tão preocupados com a política, as eleições, a partidarização da Copa, que ninguém se lembrou de escrutinar devidamente a seleção.

    Para escapar do embate político, ela foi colocada no altar sacrossanto de unanimidade nacional, quando não era nada disso.

    A Alemanha mostrou ao mundo a normalização do futebol brasileiro. Só Neymar é excepcional. Os alemães tiveram até pena, podiam ter enfiado mais. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete!, gritavam os argentinos ontem no Itaquerão ao baterem a Holanda. Nunca mais seremos respeitados como éramos, descemos um patamar, manchamos a camisa amarela.

    Essa humilhação é a marca da Copa do ponto de vista brasileiro. Sim, fizemos uma grande festa até aqui, nos comportamos melhor do que nosso complexo de vira latas deixava imaginar.

    Aliviou o mal estar pré-Copa. Mas o (mau) futebol venceu a esperança. E a era petista tem mais esse marco: nunca antes na história deste país tivemos vexame tão grande.

    O Maracanazo de 1950 foi finalmente superado, por um fracasso ainda maior.

    Um fracasso, como de costume, previsível. Assim como havia escrito nesta coluna, em maio de 2010, que não ganharíamos a Copa com o novato Dunga, neste Mundial antecipei a profecia em um ano, aqui escrevendo, em abril de 2013: "Não ergueremos o caneco no ano que vem".

    O Brasil conquistou o direito de sediar a Copa em 2007, e ao invés de preparar a seleção para praticar o melhor futebol do mundo na nossa Copa, como um país não vira-lata faria, a CBF entronou Felipão a apenas um ano e meio do torneio (logo depois de ele levar o Palmeiras ao rebaixamento). Ao assumir a seleção, disse que começaria o trabalho do zero.

    E no zero ficou (ou no 7).

    A conquista da Copa das Confederações em 2013 foi uma ilusão que acabou camuflando os problemas de um time sem meio campo, mal convocado, mal escalado, mal organizado, que só pode deixar um legado positivo: enterrar de vez a era Parreira-Felipão do futebol 1 a 0, do futebol pelo resultado.

    Pelo futebol arte, pelo campeonato moral.

    Por uma Constituinte do futebol, que varra a estrutura podre dos clubes e das federações. Sem desinfecção, a fenda aberta no Mineirão não vai cicatrizar.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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