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    Sérgio Malbergier

    De mulher para mulher, Marina?

    28/08/2014 03h00

    Marina Silva, como Lula e FHC, tem uma biografia extraordinária. Ela não é gerente ou herdeira política. Construiu trajetória heroica do coração da Amazônia ao coração do Brasil que pode ser narrada como um conto avatariano.

    Frágil e forte, Marina joga uma política sofisticada comparada ao pugilato PT-PSDB, ficando de fora e no centro ao mesmo tempo.

    A cena política estava pronta para o "outsider" (ou a terceira via) que quebrasse a outrora produtiva polaridade PT-PSDB e rearranjasse o jogo. E quando Marina convoca e nomeia bons quadros dos dois partidos para colaborarem num eventual governo seu, consegue ocupar o centro também. E todas as eleições brasileiras são vencidas no centro.

    No paredão do Jornal Nacional, Marina segurou o rojão com sua exótica figura e o figurino preto e branco de motivos amazônicos, como no debate da Band. Melhor que o modelo Angela Merkel azul que Dilma vestiu quando recebeu Bonner e Poeta no Palácio.

    Aliás, Dilma é a primeira presidente mulher do país, mas pouco explorou essa condição. Até a famosa cena da presidente cozinhando macarrão no programa eleitoral (num modelinho Angela Merkel verde). Isso apesar de o fato de Dilma ser mulher ter aparecido em pesquisas no início de seu governo como um de seus trunfos na apreciação popular.

    Mas Dilma não é política. Incidentalmente, por vontade de seu criador, ela governa o Brasil. Com sua vocação tecnocrata e centralizadora, achou que poderia comandar do gabinete e na caneta. Focou na economia, mudou um modelo que dava resultado e errou a mão. A economia parou bem na hora da eleição, reforçando o mal estar e o desejo geral de mudança despertados nas manifestações de 2013. Dilma agora tenta defender a mudança e a continuidade ao mesmo tempo. Difícil.

    Atrás das duas mulheres, Aécio perdeu para Marina a posição de alternativa ao PT. Quanto mais ele e Dilma trocam acusações sobre os feitos e malfeitos de seus partidos e governos, mais Marina se destaca como opção ao que está aí.

    Pela primeira vez na história do Brasil e raras vezes na história da humanidade, podemos ter uma transferência de poder de mulher para mulher.

    A fatalidade e a conjuntura favorecem Marina. Ela está numa onda que pode virar um tsunami. Do jeito que vai, pode ser mais difícil governar que se eleger.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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