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    Sérgio Malbergier

    V de vilão

    04/09/2014 03h00

    Boa parte das famílias dos meus avós morreu no Holocausto, espero que entendam o sentimento persecutório. É muito deprimente constatar como o extermínio de 6 milhões de judeus no coração da Europa é lembrado cada vez mais apenas para acusar Israel, atribuindo ao país atrocidades comparáveis às dos nazistas. Um discurso insultante que permeia impunemente os grandes veículos de comunicação, na boca de ferozes porta-vozes do Hamas a ferozes porta-vozes do progressismo antissemita.

    Até aqui no Brasil a praga pega. O ódio aos judeus é antigo, globalizado e tem em Israel seu perfeito condutor.

    O mundo parece ter satisfação de dizer aos 14 milhões de judeus que o moderno Estado judeu, fruto do Holocausto, pode ser tão cruel quanto os nazistas e o resto do planeta que virou o rosto durante a gradual execução do processo de extermínio.

    Estava tão deprimido com esse assunto, que não queria voltar ao tema. Mas não me contive diante das cínicas fotos dos líderes do Hamas fazendo o v da vitória em meio às ruínas de Gaza. Ruínas que eles deliberadamente buscaram na sua guerra suicida contra Israel para, entre outras coisas, alimentar a dócil imprensa mundial de imagens impactantes do sofrimento palestino.

    Assim como o Hizbullah (Partido de Deus) fez após trazer destruição à área xiita de Beirute em 2006, o Hamas começou a pagar US$ 2.000 para moradores de Gaza que sofreram perdas terríveis na guerra. O Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) foi à guerra e não conseguiu absolutamente nada do que pretendia. Espalhou morte e devastação, mas não apareceu comentarista criticando com metade do vigor que critica Israel a irracionalidade desse grupo.

    Silenciados os canhões e os drones, Israel começou a escrutinar intensamente a guerra, com foco absoluto nos erros para evitá-los no próximo conflito. Investigação oficial e tantas outras esmiúçam cada operação e cada baixa. O governo já pediu bilhões de dólares extras para melhor equipar suas forças. O país é próspero, pode fazer esse investimento.

    Enquanto isso, nas ruínas de Gaza, uma pesquisa aponta alta significativa do apoio ao Hamas, queda dos moderados da Autoridade Palestina, execuções sumárias e marchas da vitória encenadas para enganar quem quer ser enganado.Para bom entendedor, o v cínico do Hamas só pode ser lido como v de vilão. Mas muita gente não quer entender.

    Resta esperar o próximo confronto. Ou atuar pela libertação dos palestinos do Hamas. Sem esse passo, eles dificilmente se libertarão da ocupação israelense.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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