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    Sérgio Malbergier

    Certeza só das incertezas

    12/02/2015 02h00

    Cresce de novo a sensação de que só a rua salva. As soluções do Brasil só passarão com o empurrão do povo, este ovo com um p na frente.

    E o povo, ao contrário das mistificações, não é uma coisa só. Ainda bem. O povo do governo, o tradicional povo da rua política brasileira, (como MST, MTST, CUT, PT) nasceu com essa vocação, mas anda envergonhado.

    Por outro lado, dos outros lados existe agora capacidade de mobilização muito maior, formada primeiro nas passeatas de junho de 2013 e depois nas marchas antigoverno do último ciclo eleitoral. É a parte do povo que não costumava se mobilizar politicamente, mas que a partir de junho de 2013, capacitados pelas redes sociais, descobriu como é fácil fechar a avenida Paulista e a Faria Lima com uma ideia na cabeça e um teclado na mão.

    Isso tudo pode ser muito bom ou muito ruim. Convulsões sociais e a instabilidade que geram tendem a ser mais danosas que benéficas. Certeza só das incertezas, que paralisam, dividem e podem radicalizar o país. Mas podem salvá-lo.

    A revolução política não será televisionada pela TV Senado. Achar que parlamentares e governantes chegarão por si a boas soluções para os graves problemas da gestão pública e política do país é achar que o problema pode ser a solução. Não pode.

    Os Poderes são inescapáveis, e serão o Executivo e o Legislativo que encaminharão as soluções. Mas se não forem pressionados pelos povos da rua, nada farão.

    Pragas de dimensões bíblicas como as faltas de água e luz nos jogam, sem filtro, de volta ao Brasil arcaico, incapaz de progredir de forma decisiva. Como regredimos tanto depois de tanta promessa e confiança? Dilma é a resposta. Lula errou ao escolher a sucessora, sem habilidade política e economicamente reacionária.

    A presidente trancada em seu palácio desde a vitória eleitoral é o símbolo mais enfático da falta de norte e de chão do governo.

    Seu maior acerto foi convocar um ministro da Fazenda que pensa o oposto dela para aplicar um tardio choque fiscal e de credibilidade no governo, desfazendo tudo o que foi feito. Mas ela não o prestigia enfaticamente nem consegue evitar ataques da sua própria base contra o plano Levy, o que só aumenta o custo do ajuste.

    O silêncio da presidente é o estrondoso retrato de quem não tem discurso. O mago marqueteiro, reconvocado às pressas, terá de encontrar algo além da imaginação para convencer os brasileiros de que o governo é bom apesar de todas as evidências e de que a presidente não mente, apesar de ter desmentido toda a sua campanha no primeiro mês.

    O governo não tem voz nem comando, o mundo político está acuado pela Lava Jato, a economia está paralisada pela herança de Dilma 1, o Datafolha fotografou um país à beira de um ataque de nervos.

    Em busca de descompressão, a saída é a rua. A ver se nos levará a um lugar melhor.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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