• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 08:01:50 -03
    Sérgio Malbergier

    Venezuela mostra o caminho para o Brasil

    26/02/2015 07h14

    O ciclo da esquerda sul-americana está chegando ao fim. O socialismo do século 21 não sobreviverá à sua segunda década. A dúvida é se acabará com grande estouro ou grande suspiro.

    No Brasil, nossa esquerda foi, até aqui, muito melhor que a deles. Abraçou o mercado e fez populismo com capitalismo. Governou com ricos e pobres. Melhorou a vida de ricos e pobres.

    O Brasil cresceu econômica, social e institucionalmente com a transição do PSDB para o PT. A alternância de poder melhora e define a democracia.

    Não dá para comparar Lula com Chávez, Correa, Kirchners, Morales. Mas depois de Lula veio Dilma, e aqui estamos. Numa escalada de incerteza, instabilidade, insatisfação e intolerância que pode piorar muito, derrotando a todos.

    A briga de rua entre petistas e opositores no Rio de Janeiro, durante ato "pró-Petrobras" do PT, foi um trailer terrível do que pode vir por aí.

    Contra o desejo da imensa maioria centrista, não faltarão irresponsáveis dos dois lados dispostos a resolver as coisas na "porrada", como conclamou o líder petista do Rio.

    Desde que chegou ao poder, o planeta PT nunca esteve tão fraco. Por isso, este é o grande teste do partido.

    As eleições foram um mau presságio. A campanha petista mentiu tanto que agora não consegue parar de mentir.

    O país maravilha do marketing esfarelou à luz do sol e do remédio amargo do doutor Levy. As promessas da presidente e do PT de combate duro à corrupção são logo seguidas por ataques à maior investigação contra a corrupção da história do país.

    Nada está colando.

    O ato "pró-Petrobras", na verdade um ato pró-PT, foi um fiasco. Tirando Lula, dos prometidos "notáveis" não foi ninguém muito notável (aliás, onde anda Chico Buarque?).

    O governo Dilma age como se tivesse perdido as eleições menos de cem dias depois de começar o segundo mandato. O tradicional balanço dos primeiros cem dias de governo já tem título: os piores primeiros cem dias de governo da história do país. Nem FHC 2 foi tão mal em tão pouco tempo.

    A megabase governista no Congresso evaporou. O PMDB está com um pé na oposição. O PT também. Enquanto o PMDB puxa a agenda para o centro, o PT combate o pilar principal do início do mandato: o ajuste fiscal.
    Dilma, uma tecnocrata levada à Presidência pelo livre arbítrio de Lula, não consegue liderar nem lidar com forças tão contraditórias. A resultante é uma interrogação.

    O debate é fundamental. O protesto é fundamental. Mas a estabilidade do sistema democrático-capitalista é o mais fundamental, a base sobre a qual o resto evolui. Foi com ele que chegamos, a duras penas, até aqui.

    É triste ver o colapso econômico e político da Venezuela. Trevas que ao menos para o Brasil trazem luz. É uma lição clara, inequívoca, do caminho que não queremos seguir.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024