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    Sérgio Malbergier

    PT ensaia avanço em marcha à ré

    26/03/2015 02h00

    A resposta do PT ao encolhimento do PT é encolher ainda mais o PT.

    Acossado pela Lava-Jato, sem discurso e sem governo para defender já que o governo hoje é o ajuste fiscal do Joaquim Levy, o partido ensaia, mais uma vez, fuga pela esquerda. Um retrocesso, mesmo que necessário.

    No "Roteiro para o debate" do próximo congresso do partido, em junho, está lá a "construção do bloco histórico das forças democráticas". Lula já vem pedindo, com grande eco, que o partido se volte para as suas bases históricas nos sindicatos e nos movimentos sociais, sua vocação original e legítima de querer representar desvalidos.

    Agora que foi abandonado por Chico Buarque, Marta Suplicy e tantos outros, talvez seja mesmo seu último refúgio. Mas é o caminho oposto ao que levou o partido ao poder nas eleições de 2002, quando abriu mão do esquerdismo radical, cortejou as classes médias, aderiu ao capitalismo e pregou conciliação de empresários e trabalhadores, agronegócio e reforma agrária, ricos e pobres.

    Depois das eleições de Collor e FHC, fez bem à democracia brasileira eleger Lula, o revolucionário conciliador, que promoveu novas agendas e novas urgências (nem todas, claro, abonáveis).

    Os problemas do PT começaram justamente com o enorme sucesso de Lula.

    Com o caixa cheio e a confiança no pico, com o país crescendo a 7,6% e a renda em alta, Lula colocou Dilma no Palácio e, com ela, a cega convicção da esquerda de que só o Estado será capaz de fazer justiça econômica e social no Brasil.

    Como até quem não admite sabe, deu tudo errado. Tão errado que chamaram o doutor Levy, o oposto. Banqueiro formado na escola de Chicago, ele é o homem mais forte do governo Dilma e o único capaz de articular a base "governista" no Congresso. Seria incrível se não fosse muito incrível.

    Assim o PT encolhe. Volta ao início, à "construção do bloco histórico das forças democráticas". É um bloco muito menor do que o seu pomposo nome e que não tem muito aonde ir. No último 15 de março, o povo nas ruas estabeleceu limites. Não passarão.

    O que leva o partido mais para o passado do que para o futuro.

    Seria melhor evoluir para a frente do que para trás. Mas qualquer lugar parece melhor do que o buraco atual.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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