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    Sérgio Malbergier

    Caos transforma progressista em reacionário

    16/04/2015 08h08

    O Brasil está tão no ar que esquerda virou direita, progressista virou reacionário, nesse caos seminal do governo Dilma.

    São preconceituosos, maniqueístas e fantasiosos os ataques que as viúvas da esquerda disparam contra quem se manifesta democraticamente contra o estado da nação.

    Sem base para a defesa do que está aí, pós-petrolão e pós-fracasso econômico, só lhes restaram a negação da verdade e a repetição de modelos de pensamento ultrapassados. O resto do país quer avançar.

    Lula estava certo quando, no auge de seu poder, decretou a extinção da direita no Brasil. O que temos hoje é, na falta de rótulo melhor, uma nova direita, ainda em construção.

    O movimento social mais novo, vibrante e de raiz hoje é o das pessoas que lotaram a avenida Paulista mais uma vez no domingo passado. Quem acha que colocar 100 mil pessoas na rua é sinal de fraqueza não quer ver a realidade. Nada nem ninguém hoje consegue mobilizar mais gente no Brasil (e em grande parte do mundo), mesmo sem partido nem organizações relevantes por trás.

    O pilar maior desse movimento transformador é a revolta (palavra mais precisa que ódio) contra a governança pública, o sistema político, a corrupção, a carga tributária, os serviços públicos, a volta do atraso. E quem melhor representa isso tudo é o PT, establishment por definição, no poder há quase 13 anos e alvo central da maior operação anticorrupção da história deste país.

    A agenda progressista do Brasil é a das reformas econômicas, políticas, morais, norteadas pela eficiência e não pela ideologia, pelo respeito e não pelo jeito, pela lei e não pela burla da lei. É uma agenda promovida principalmente pela sociedade civil organizada e empoderada em instituições mais maduras e pelas novas tecnologias, com a oposição tentando pegar carona.

    E embora quem esteja nas manifestações tenha uma renda muito maior que a média nacional, as massas estão muito mais alinhadas com a visão dessa elite do que com a visão dos dinossauros esquerdistas.

    O deslocamento do "zeitgeist" brasileiro não se limita ao campo político e econômico. Ele é também moral. A emancipação econômica da classe C é também a emancipação política da classe C. Que agora tem muito mais capacidade de articular e promover sua agenda conservadora, gostemos dela ou não.

    Os sinais de sua força estão por toda parte –dos chamados ao boicote da nova novela das nove com casal de lésbicas ao apoio à redução da maioridade penal.

    O PT está perdido, acuado, nas cordas. Para sobreviver, avança para trás, volta-se para a esquerda e para as suas bases históricas. É o caminho inverso do que o que o levou ao poder. Mas provavelmente o único possível.

    A nova direita, ou o novo progressismo, já está ocupando esse espaço. Para desespero das viúvas da esquerda, reduzidas a carpideiras e futriqueiras.

    Aliás, cadê o Chico Buarque?

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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