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    Sérgio Malbergier

    O lado Deng de Dilma

    30/04/2015 06h37

    Dilma Rousseff promoveu em seu primeiro mandato o governo mais esquerdista do Brasil, principalmente na economia. Seu intervencionismo e sua gastança improdutiva só tiveram rivais na época em que a ditadura criava estatais como Dilma tabelava juros e lucros.

    Diferentemente do período militar, porém, vivemos numa democracia. A Constituição de 1988 criou instituições sólidas e independentes que neste momento de dificuldades e malfeitos mostram força e utilidade.

    Primeiro veio a criminalização do modo criminoso de se fazer política –do PT e também dos outros grandes partidos. Agora, temos a inédita criminalização da gastança irresponsável de Dilma 1, condenada pelo Tribunal de Contas da União e investigada pelo Ministério Público por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

    Os militares endividaram o país até quebrá-lo. Dilma começou processo semelhante, com tramas fiscais que só foram contidas pelas instituições e pela pressão saneadora dos mercados, essa organização muito mais popular do que se imagina, pois gere o patrimônio das elites e também das massas.

    O que mais espanta é a esquerda seguir defendendo exatamente o que acabou de se provar totalmente errado, tentando dizer que os problemas do Brasil decorrem das políticas saneadoras atuais e não dos equívocos que forçaram esse remédio amargo. Se não apreenderam com fatos tão brutais e recentes, aprenderão como?

    Expoente dessa corrente, a economista Leda Paulani disse numa já célebre e comentada entrevista que não se deve aplicar agora a mesma receita de 2003 (aquela que legou anos de crescimento e inclusão social). Ela receitou exatamente as políticas que acabaram de fracassar com Dilma, como se tivesse hibernado nos últimos quatro anos. Paulani, sintomaticamente, deixou o cargo de secretária de Planejamento do prefeito Haddad para voltar à academia. Bom para a cidade, perigoso para a Faculdade de Economia da USP.

    O pensamento econômico de esquerda, ao mudar as políticas bem sucedidas dos anos Lula, mostrou que não aprendeu com seus próprios acertos. Agora, mostra que também não aprendeu com seus próprios erros.

    Dilma, pelo menos, desgarrou. Colocou os ortodoxos no poder, corta gastos, permite paulada nos juros e prepara mais privatizações. Se continuar assim, ainda vira o nosso Deng Xiaoping.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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