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    Sérgio Malbergier

    Presente de grego para o Brasil

    02/07/2015 07h13

    Quando o Syriza chegou ao poder na Grécia, em janeiro, foi saudado pelos crentes como a nova esquerda revolucionária que transformaria a política e a economia e inspiraria movimentos semelhantes pelo mundo. Cinco meses depois, os bancos gregos estão fechados, os aposentados sofrem nas filas dos caixas, as pessoas discutem nas ruas, o país deu calote. E todos estão apavorados.

    Diante de negociações duras com os credores que financiam o país, o premiê grego, Alexis Tsipras, convocou um referendo urgindo os eleitores a não aprovarem o plano de salvação apresentado ao país. Os parceiros europeus se sentiram traídos pelo movimento grego, e os principais países sinalizaram que a vitória do não levará à saída da Grécia do euro.

    Na verdade, ninguém sabe o que vai acontecer. Uma coisa é certa: será uma derrota para o governo esquerdista. Se ganhar o não, como quer o governo (e a extrema direita), o país deve afundar mais na crise e a recuperação ser mais custosa. Se der sim, Tsipras deve renunciar.

    Os radicais gregos falam abertamente de como se inspiraram na esquerda latino-americana e no Foro de São Paulo, o que fica claro diante dos resultados obtidos.

    Por isso, olhando o que Dilma vem fazendo, o que os gregos vêm fazendo, o que os venezuelanos e os argentinos vêm fazendo, nossa presidente, nessa nova fase, é um oásis.

    Enquanto Tsipras traía e desafiava o sistema financeiro mundial, Dilma almoçava com Rupert Murdoch no "Wall Street Journal", passeava no carro do Google, encontrava Condoleezza Rice, e, principalmente, se agarrava em Barack Obama como uma boia salvadora.

    Se Tsipras flerta com Moscou, Dilma abraça Washington. Essa é a nossa esquerda.

    Dilma aprendeu com nossa ruína. Depois de tudo que fez, entendeu que só o capitalismo salva o país e o seu governo. Nomeou e empoderou um dos ministros da Fazenda mais ortodoxos da história, libertou o Banco Central, privatizou a infraestrutura e quer privatizar estatais.

    Na Grécia, não tem nada disso. A esquerda radical está sendo esquerda radical. O Syriza é quase o Partido da Causa Operária com PhDs e intelectuais. Foi eleito com apenas 36% dos votos em cima de uma plataforma anti-austeridade, como se houvesse outro remédio para curar uma economia perdulária que, depois da adoção do euro e o acesso a crédito farto e barato, gastou como se o bolso do contribuinte alemão não tivesse limites.

    Olhando o cenário da política brasileira daqui a dois anos, não dá para ver nada. Fazendo esforço, é possível imaginar uma economia cambaleante e um governo petista tentado a repetir as loucuras pré-eleitorais de 2014. Mas o sofrimento grego, como o venezuelano e o brasileiro, deixa muito claro o alto custo do populismo.

    Enquanto isso, Cuba e EUA anunciam a reabertura de embaixadas. É por aí que vem a revolução.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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