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    Sérgio Malbergier

    Dilma viu a luz, mas volta à escuridão

    03/09/2015 09h28

    Vivemos o ápice do custo político do Brasil. O país segue atônito e revoltado o desenrolar da crise política em Brasília, que nos afunda na lama. Ninguém sabe o que vai acontecer, só sabemos que a conta, como sempre, será paga por nós. Como disse Dilma ontem: "Não estou afastando nenhuma fonte de receita..." Só faltou dizer: "...para tapar o buraco que minha política econômica desastrada cavou nos últimos anos".

    A presidente quase quebrou o Brasil depois de pegar o país crescendo a 7,5%, com caixa cheio e cheio de confiança. Em quatro anos jogou tudo fora com uma "nova matriz econômica" ideologicamente "gauche", cega à realidade, que demoliu o caminho criado a duras penas por todos nós, sob a condução de FHC e Lula.

    Ela só foi reeleita gastando o nosso dinheiro como se não houvesse amanhã (o amanhã chegou) e mentindo como se não houvesse verdade (a verdade chegou), tratando as massas como gente ignara, numa campanha política que insultou a inteligência do pobre brasileiro que ela e o PT dizem defender.

    Quem mais sofre com isso tudo obviamente são os mais pobres, porque os menos pobres e os mais ricos têm mais condições de se protegerem nas crises.

    Dilma ainda tem três anos e quatro meses de mandato e prova todo dia que não tem a menor capacidade de comandar o país. Lula, apesar de todos as suas falhas graves, deixou um legado importante depois de oito anos na Presidência. Mas Dilma está se tornando seu maior (e pior) legado.

    As crises se sucedem como as falas da presidente —desconexas, confusas, repetitivas. Diz muito sobre como Dilma foi eleita e reeleita o fato de ela ser uma líder política sem o dom da oratória nem prática política.

    Não durou muito o arranjo possível para a governabilidade que se instaurou no início do segundo mandato: Joaquim Levy na economia e Michel Temer na coordenação política.

    O problema é que ficou explícito demais o papel secundário de Dilma. E isso sua personalidade autoritária não admite. Foi só a água baixar um pouco, que ela novamente foi para cima. Levy é jogado todo dia na frigideira. Temer já se foi. Ficamos com Dilma, e ela cada vez mais dá sinais de que não mudou nem mudará.

    Se a nomeação de Levy foi um gesto imenso, um raro reconhecimento de seus equívocos, o que acontece nas últimas semanas tira dela todo o mérito daquele movimento e pode custar mais caro do que se ela não o tivesse nomeado.

    Pior ainda são as vozes daqueles que defenderam o intervencionismo e a gastança do primeiro mandato, que levou o país à beira do abismo, dizerem que a causa da crise econômica é o remédio amargo para resolver a crise econômica e propõem a mesma receita desastrosa de Dilma 1.

    O único ganho para o país, dentro das grandes perdas com a fracassada nova matriz econômica, era o entendimento de que a receita do intervencionismo estatal e da gastança fiscal levou o país ao buraco.

    Por décadas, este foi o país das décadas perdidas. Estamos perdendo mais uma. Dilma viu a luz no fim do túnel, mas parece manobrar de volta para a escuridão.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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