• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 04:17:38 -03
    Sérgio Malbergier

    A pátria de togas

    08/10/2015 09h00

    O Brasil tem encontro marcado com a Justiça, o que é muito natural num país forjado por injustiças.

    Pouco tempo depois do julgamento do mensalão, os senhores e senhoras de toga voltam ao noticiário e ao imaginário brasileiro com o juiz Sérgio Moro, o Tribunal Superior Eleitoral, o Tribunal de Contas da União e o Supremo Tribunal Federal.

    Diante da inconsistência do Executivo e do Legislativo, o Judiciário, com seus ordenamentos claros e consequentes, entra na disputa pela condução da maior crise brasileira em décadas.

    Dilma Rousseff, com seu jeitão retrô de "apparatchik" do Leste Europeu, despertou o espírito animal do burocrata missionário da esquerda brasileira, que há décadas aguardava a oportunidade de resolver na caneta todas as injustiças do país. Claro que ia dar errado. Mas eis que Dilma despertou também, com seus tantos equívocos e desvios, a outra face da burocracia missionária brasileira —a do agente público seguro e preparado que move as engrenagens do Estado com direitos e deveres expandidos e consolidados pela Constituição de 1988, disposto a fazer a faxina por dentro.

    Os ministros do TCU têm nomeação política, mas, diante da tentativa do governo de politizar o julgamento das contas de Dilma, se uniram e bateram unanimemente na tecla de que a preparação dos seus votos foi baseada no trabalho de técnicos competentes e preparados do tribunal.

    O mensalão é um marco nessa caminhada. Mesmo tendo a maioria de ministros apontados por governos petistas, o STF, eletrizado pela figura carismática de Joaquim Barbosa e pela pressão popular, condenou cardeais petistas e inaugurou uma nova fase no combate à corrupção no Brasil, que permitiu a Lava Jato. É uma evolução orgânica, propositada, mesmo que tardia e lenta.

    Sergio Moro não é um cavaleiro solitário nem surgiu por acaso. Muito pelo contrário. Associações de magistrados e juízes de tribunais superiores têm, com manifestos e sentenças, reiteradamente apoiado o seu trabalho (e o de policiais e procuradores). Os que a Moro se opõem são, em geral, os já condenados ou na fila de julgamento, seus apoiadores, advogados e pareceristas.

    É notável que os que protestam em nome da Justiça contra o que denunciam como prisões abusivas nada falam, por exemplo, sobre o caso de Jose Maria Marin, o ex-presidente da CBF que está desde maio preso na Suíça a pedido da Justiça americana e à espera de extradição para os EUA.

    O governo já mostrou que, para sobreviver, vai levar tudo o que puder para o tapetão e a qualquer outro lugar. As derrotas acachapantes que sofreu no TSE e no TCU nesta semana são um sinal de que sua vida não será fácil também nessas paragens. Vamos ver como tudo acaba onde tudo acaba, no STF.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024