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    Sérgio Malbergier

    A conta principal é a do Datafolha

    03/12/2015 10h27

    Brasília inteira está fazendo conta para saber quantos deputados estão a favor e quantos estão contra o impeachment. Mas conta tão ou mais importante é a do Datafolha. Na pesquisa da semana passada, 65% dos brasileiros defenderam que o processo de impeachment fosse iniciado (o que já aconteceu) e 62% disseram que Dilma deveria renunciar.

    O apoio consistente da população ao processo de impeachment e à renúncia são praticamente iguais entre as diferentes classes sociais e regiões do país. Elite e trabalhador estão unidos no desejo de tirar Dilma do palácio. Em números absolutos, obviamente, o número de operários pelo fim do governo petista é imensamente maior do que o número de patrões. Não dá para governistas e/ou petistas dizerem que impeachment é coisa da elite golpista. É coisa do povo.

    Aliás, o povo está unido também em torno da necessidade de se combater a corrupção. Pela primeira vez na história do país, o combate à corrupção foi considerado o maior problema do Brasil. O que mostra o lado didático do petrolão, uma vez que os problemas antes considerados mais importantes, como saúde, educação e segurança, estão diretamente ligados à corrupção profunda do aparelho estatal.

    E se o Brasil não mudou ainda, muitas coisas estão mudando. As manifestações populares iniciadas em junho de 2013 mostraram a nova capacidade de mobilização popular, inclusive da elite, essa parte do povo mais instruída e mais capaz de organizar recursos e influenciar pessoas, que antes participava da vida pública apenas no voto e agora, graças aos desmandos da era PT, tomou as ruas dos tais "movimentos sociais" oficiais.

    A força da opinião pública, liderada pela elite, é crescente e está se tornando, mesmo que tardiamente, determinante na política. A votação aberta e esmagadora no Senado pela manutenção do senador Delcídio do Amaral na cadeia, na já distante semana passada, provou que os políticos estão acuados e pressionados como nunca estiveram. Seus históricos abusos não mais passarão.

    A revolução tecnológica mudou tudo isso. As pessoas hoje se comunicam freneticamente sobre política, numa corrente furiosa e mobilizadora.

    O PT e principalmente o desgoverno Dilma tem pelo menos esse mérito. Tiraram o país do bovinismo atávico. O descalabro econômico, político e criminal passou dos limites até do brasileiro.

    O desejo de ver Dilma ir, como mostra o Datafolha, é geral e intenso. O processo de impeachment só vai estimulá-lo. O pecado original do impeachment, de ter sido detonado por um político pior como Eduardo Cunha, será cada vez menos relevante na medida em que o processo progrida e Cunha, eventualmente, perca seu cargo.

    Não dá para querer que o Brasil avance e dizer que não há motivo para se debater o impeachment. Se a política do país fosse séria, o debate já teria acontecido no mensalão. E desde então tivemos tudo isso que estamos vendo –corrupção desembestada e nos mais altos níveis do governo, descalabro econômico, fraudes fiscais e eleitorais etc.

    O processo de impeachment chegou para chacoalhar ainda mais o sono dessa classe política irresponsável e autocentrada que tomou o Brasil de refém. Revela mais um passo na regeneração do Brasil. E reaproxima a política de nós, o povo.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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