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    Sérgio Malbergier

    A volta dos que não foram

    21/01/2016 10h00

    A velha "nova matriz econômica" voltou. Isso já era indisfarçável —mas deu para disfarçar um pouco ou fingimos não ver, como é mais comum no Brasil— quando um dos formuladores e executores da velha nova matriz, Nelson Barbosa, foi nomeado ministro da Fazenda. Barbosa assumiu beijando a cruz ortodoxa, mesmo que ninguém na igreja acreditasse nele. Agora, com a decisão de ontem do Banco Central, não resta dúvida. Ela voltou.

    O "novo" Nelson Barbosa voou para Davos para tentar tranquilizar capitães, barões e tubarões da economia mundial de sua conversão no mesmo dia em que o BC, diante de uma inflação acima de 10%, rasgava a fantasia da autonomia e jogava a toalha da política monetária. Uma dupla e segunda rendição à velha nova matriz.

    O horror interminável de 2015 era atenuado um pouco apenas pelas previsões de que em 2016 a recessão seria menor e a economia poderia crescer um pouquinho a partir dos últimos meses do ano. Agora previsões já passam de queda de 3% do PIB neste ano, o dólar dispara, o mundo lá fora fica muito mais complicado e a confiança dos agentes econômicos na condução econômica e política do país sai do volume morto para o volume negativo.

    Com Barbosa no lugar de Levy na Fazenda e o velho Tombini no lugar do novo Tombini no BC pode-se esperar de tudo e o seu contrário, mas, principalmente, mais da mesma receita perdulária e inconsequente que nos jogou nesse abismo. Por isso, vai ser difícil convencer investidores e credores em Davos ou em São Paulo —aqueles poucos que ainda estão interessados.

    Mesmo que improvável, pareceu que Dilma, com Levy, rumava para alguma austeridade e alguma previsibilidade econômica, essencial para qualquer estabilização.

    Agora embaçou de vez. E ainda tem Lula, que entre ameaças a jornalistas e proclamações de honestidade, ainda diz coisas como: "Em algum momento se acreditou que fazendo um discurso para o mercado ia melhorar, não conseguimos ganhar uma pessoa do mercado. E perdemos a nossa gente. A Dilma tem um desafio agora. Em algum momento nesse mês vão ter que anunciar alguma coisa, até para explicar por que o Levy saiu, o que vai mudar".

    Lula e o PT vivem de discurso. E já decidiram que para sobreviver e ganhar votos neste ano eleitoral precisam, novamente, gastar nosso dinheiro, mesmo que não o tenhamos. Afinal, é o PT que está em jogo. E o PT, para eles, é maior que o Brasil, mais honesto que o Brasil, mais solidário que o Brasil, e a culpa é dos outros.

    Nessa conjuntura, Dilma fica ainda mais fraca e o país, mais desgovernado, mais desnorteado, mais comprometido com o fracasso e o retrocesso.

    A única coisa que vai para frente, como disse o juiz, é a Lava Jato. Pelo menos algum alento.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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