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    Sérgio Malbergier

    Brasil paga pelas mentiras de João Santana

    25/02/2016 13h14

    Até onde a memória vai, João e Monica formam o primeiro casal a ser preso junto na Lava Jato. Têm certo ar romântico as cenas dos dois, elegantes, descendo do avião e depois na fila indiana para o exame de corpo delito. "Não vou abaixar a cabeça não", disse Monica, sorrindo às câmeras.

    A cabeça genial de João Santana deve ter planejado milimetricamente a "mise-en-scène" desse regresso, assessorado pelo competente advogado. Nem José Dirceu, nesta última vez, teve tanta verve. Suponho que a ideia seja projetar segurança na própria inocência.

    O casal, como todo brasileiro, deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Mas eles se especializaram em acusar sem dó nem provas os adversários nas campanhas que pilotaram para o PT, "quase batalhas sangrentas", como classificou João em perfil no "New York Times" de 2013.

    Na quase sangrenta campanha de 2014, Santana mostrou como é bom de contar mentiras e demonizar inimigos. A independência do Banco Central, por exemplo, proposta eficiente para conter a inflação, hoje em disparada, era apresentada graficamente como um plano dos ricos para tirar comida da mesa dos pobres. Os mesmos ricos que eram seus vizinhos nos elitizados enclaves de Vila Nova Conceição (São Paulo) e Corredor da Vitória (Salvador), onde comprou imóveis, sem falar de Nova York e Paris.

    Em 7 de novembro passado, quando a "Veja" revelou que ele estava sendo investigado, Santana divulgou comunicado firme: "1. É fato notório –e por mim amplamente divulgado– que tenho, há vários anos, quatro empresas de marketing político no exterior. 2. Desde o início, as atividades destas empresas foram informadas aos órgãos de fiscalização brasileiros, como manda a lei. " Em 16 de janeiro deste ano, diante de novas reportagens, Santana divulgou outra nota firme: "É perda de tempo procurar caixa 2 na Pólis, simplesmente porque o grupo recolhe todos os impostos devidos. " Na última terça-feira, a assessoria de João Santana enviou nota à Folha reiterando que "todos os tributos incidentes nas operações foram devidamente apurados e pagos, cumprindo rigorosamente todos os trâmites legais da Receita Federal".

    Mas de ontem para hoje, ficamos sabendo que, segundo Relatório da Receita Federal, só no ano passado, e após iniciadas as investigações, é que Santana ratificou suas declarações para incluir suas empresas no exterior abertas muitos anos antes. E a própria Monica admitiu em depoimento à Lava Jato que manteve recursos sem declarar ao Fisco: "Está claro que a Mônica e o João estão presos por manutenção de conta não declarada no exterior. Um crime pelo qual não existe uma pessoa presa nesse País. Não vou dizer que é um crime leve, mas é um crime que não enseja a prisão de qualquer cidadão".

    Podemos dizer também que é um crime do qual o PT não cansa de acusar a elite que execra e que, segundo suas peças publicitárias, quer tirar comida da mesa do trabalhador. Sonegar impostos certamente tira recursos dos programas sociais que ajudam o trabalhador.

    O Brasil é hoje vítima de Santana não só pelo que a Lava Jato pode vir a provar, mas pelo que já está provado: a campanha eleitoral mentirosa acabou elegendo uma mentira e o país todo paga por ela, principalmente os mais pobres, sempre menos protegidos das calamidades.

    sérgio malbergier

    Escreveu até abril de 2016

    É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".

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