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    Silvia Corrêa

    O fantasma da raiva

    17/05/2015 02h00

    Nós sempre temos a sensação de que certas coisas não vão acontecer com a gente. É assim, por exemplo, com as tragédias urbanas. A árvore que atingiu o táxi. O avião que caiu na arremetida. A menina que morreu de dengue.

    Lamentamos, mas não imaginamos que vá acontecer conosco. Soa como uma história distante, de personagens desconhecidos. Não é diferente com os casos de raiva.

    O país acompanha o drama do piscineiro de 38 anos que está em coma, em um hospital de Campo Grande (MS), infectado pelo vírus da raiva. O homem foi mordido por um cachorro de rua em Corumbá, mas demorou 45 dias para buscar atendimento. Quando chegou ao serviço de saúde, o vírus já estava instalado em seu sistema nervoso.

    Ilustração Tiago Elcerdo

    O vírus da raiva é transmitido pela saliva dos mamíferos. Cães e gatos podem adoecer se forem mordidos por morcegos, por exemplo, ou decidirem caçar esses bichos —além da chance de passarem o vírus entre si. Em animais, o curso é 100% fatal. Em humanos, há três relatos no mundo de sobrevivência —um deles, do pernambucano Marciano Menezes, hoje com 21 anos, que convive com a falta de movimentos, a atrofia do corpo e a dificuldade de fala. Todos os anos, porém, 55 mil pessoas morrem.

    Na história do piscineiro há três lições. Primeira: o abandono de cães e gatos é um problema de saúde pública, muito mais do que uma questão que interessa a amantes de animais.

    Segunda: a raiva existe, sim, apesar de muitas cidades estarem há décadas sem a manifestação humana da doença. Em Corumbá, o último caso tinha sido registrado havia 21 anos. Em São Paulo, a raiva humana fez a última vítima em 1981, mas um gato domiciliado na nobre Moema morreu pelo vírus em 2012.

    Terceira lição: se você for mordido ou arranhado por um animal não imunizado ou de procedência desconhecida, corra a um posto de saúde. A vacinação pode salvar a sua vida. Em cães e gatos, a vacina anual é a melhor medida disponível. "Mas vale a pena gastar para prevenir uma doença que afeta um em cada 1 milhão de animais no país?", pensam alguns. Responda: e se for o seu?

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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