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    Silvia Corrêa

    Decisão da Justiça contra assassina de animais deve entrar para a história

    05/07/2015 02h00

    Foi uma decisão histórica. Em sentença de 87 páginas, a juíza Patrícia Álvares Cruz condenou Dalva Lina da Silva a 12 anos, seis meses e 14 dias de prisão pela morte de 37 cães e gatos com requintes de crueldade. "Nunca antes na história deste país" maltratar um bicho rendeu pena tão rigorosa. Há quem diga que nem no mundo se viu algo do tipo.

    O crime de maus-tratos está previsto na lei federal de crimes ambientais, com pena de menos de dois anos de prisão. Há tempos deputados e senadores estão sentados em cima de um projeto de lei que aumenta essas punições. Enquanto isso, as corriqueiras cenas de espancamento e abandono, flagradas por celulares atentos, mesmo que cheguem à Justiça acabam substituídas por meia dúzia de cestas básicas.

    Ilustração Tiago Elcerdo

    No caso de Dalva, só não foi assim por empenho pessoal da promotora e da juíza, que viram nos assassinatos em série a caracterização de outros crimes, como tortura e uso de substância proibida, abrindo a possibilidade de uma pena maior.

    O processo começou há dois anos. Dalva se dizia protetora de animais e recebia em casa, na Vila Mariana (zona sul), cães e gatos abandonados que deveriam ser encaminhados à adoção. Ninguém sabia que fim ela dava aos bichos, mas o volume de lixo produzido pela casa chamou a atenção dos vizinhos, que procuraram a ONG Adote um Gatinho.

    Os ativistas contrataram um detetive, que vigiou a casa de Dalva por 21 dias e conseguiu as provas: os sacos de lixo estavam cheios de animais mortos. Ele registrou imagens dos bichos chegando e, depois, localizou seus corpos no meio do lixo.

    Dalva alega que os animais foram eutanasiados porque estavam doentes. A necropsia desmente: eram animais saudáveis, mortos com várias injeções de quetamina no tórax. Dessa forma, a substância não garante a anestesia, e os bichos morreram por hemorragia, agonizando.

    "A ré tem as características de uma assassina em série", escreve a juíza. "E o que é bastante revelador: não há motivo objetivo para os crimes. O assassino em série, como o nome diz, é um matador habitual."

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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