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    Silvia Corrêa

    Decifre seu cão

    16/08/2015 02h00

    Quem tem cães não duvida: cada um tem uma personalidade. E usam o corpo para transmitir mensagens específicas, em especial sobre como se sentem e o que querem de nós.

    Lá em casa, por exemplo, quando o sol da manhã ilumina o jardim, Bebê, nossa golden retriever, esfrega com vontade as costas na grama e exibe sua convidativa barriga, à espera de um agrado. Fica horas assim. E abana o rabo em intensa felicidade quando alguém se aproxima, dos membros da família a visitantes de primeira viagem. Parece uma delícia... Mas nem todos fazem isso.

    Cães gostam de carinho na barriga porque nessa região a pele é mais fina e com pelagem mais rala, tornando-a bem mais sensível ao toque. O problema é que, para expor a barriga, eles ficam muito vulneráveis, numa posição de absoluta submissão a humanos e outros cães. Não por acaso, quando não querem brigar, deitam-se e oferecem à barriga ao potencial adversário. É uma rendição!

    Ilustração Tiago Elcerdo

    Mas Protegilda, nossa deliciosa vira-lata, nunca se rende. Pró, como a chamamos, é um cão medroso. Não vê humanos como aliados e demorou meses, depois de adotada, para aceitar nosso carinho. Hoje ela sobe num banco do jardim para nos lamber o rosto e se entregar a um abraço. Mas barriga para o alto, jamais!

    Enquanto Bebê é quase promíscua nos sentimentos, Protegilda é mais reservada. Não se trata de não gostar de nós; ela revela isso abanando o rabo, dando abraços sobre as duas patas e rebolando o corpo. Mas não suporta se sentir vulnerável.

    A origem disso talvez venha da história de vida de Pró, que deixou marcas em seu corpo. Ela tem uma cicatriz na lateral esquerda do tórax que parece fruto de queimadura. Fico imaginando o que passou por aí.

    A diferença entre a forma como Bebê e Pró se relacionam com o mundo evidencia que, a exemplo de nós, cada cão é resultado de sua história. A soma das experiências que tiveram faz de alguns calmos e carinhosos e, de outros, medrosos e vigilantes.

    O que fazer? Decifrá-los e dar a eles experiências mais agradáveis.

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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