• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 22:50:13 -03
    Silvia Corrêa

    A garfada na ração

    10/04/2016 02h00

    El Cerdo
    Ilustração para a coluna Bichos de 10/04 da revista sãopaulo

    Que a crise chegou à mesa do brasileiro, já não é novidade. Os alimentos subiram 124% nos últimos dez anos, enquanto a inflação oficial ficou em 78%. Agora, a garfada vai chegar à ração do cachorro. Não dá a sensação de que só faltava essa?

    No fim de janeiro, a presidente Dilma Rousseff -escrevo em 3 de abril, ela ainda é presidente- assinou um decreto alterando o imposto sobre chocolate, sorvete, fumo picado e... Ração de cães e gatos! Sim, sobre itens tidos como supérfluos!

    Pelas novas regras, a partir de 1º de maio, sorvetes pagarão 5% de IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados), rações, 10%, e fumo, 30%.

    Havia controvérsia jurídica, pois há uma regra do IPI que prevê alíquota zero para "preparações destinadas a fornecer a totalidade dos elementos nutritivos necessários para alimentação diária racional e equilibrada". Agora, essa descrição se aplica só à comida de bichos de produção (suínos, bovinos e aves).

    O entendimento do governo fora traduzido em 2011, em decisão do ministro Teori Zavascki, então no Superior Tribunal de Justiça, hoje no Supremo Tribunal Federal. Ele negou alíquota zero a um fabricante de ração para pets porque "o IPI é regido pelo princípio da seletividade" e "as alíquotas são reduzidas ou majoradas conforme a essencialidade ou superficialidade dos produtos".

    "Nesse sentido", escreveu, "entendo que a tabela de incidência do IPI o fez em razão da dispensabilidade do produto". E continuou: "Ora, o sustento de tais animais domésticos de estimação reserva-se, em geral, ao mero deleite de seus donos".

    Deleite?

    O governo que sobe o IPI da ração de cães e gatos é o mesmo que, também em 2011, reconheceu os bichos como membros das famílias e incluiu veterinários entre os profissionais que devem integrar Núcleos de Saúde da Família. Vai entender...

    Talvez a razão esteja nos números: a regra sobe em R$ 76 milhões as receitas tributárias com o ramo neste ano e em R$ 137 milhões em 2017. Que coerência resiste a tantos zeros?

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024