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    Silvia Corrêa

    Tão diferentes, tão iguais

    22/05/2016 02h00

    Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. A frase é o chavão mais verdadeiro de que já tive notícia. A fulana acaba de parir, mas já sabe amamentar, dar banho e decifrar o chorinho de cólica. É ou não é?

    Infelizmente, tal sapiência não nos acompanha quando decidimos criar filhotes de quatro patas. Oscilamos da proteção extrema ao "laissez-faire" (do termo francês para o liberalismo). Resultado: animais medrosos ou agressivos, cada vez mais dependentes de ansiolíticos.

    Problemas de comportamento afetam cães e gatos em frequência maior do que qualquer outro distúrbio. É grave o bastante para a American Animal Hospital Association ter reunido uma força-tarefa para propor diretrizes ao manejo comportamental de cães e gatos, sugerindo que veterinários dominem o assunto, incluam a avaliação comportamental nas consultas e se tornem capazes de educar os clientes.

    A ideia é iniciar o acompanhamento o mais cedo possível, pois já sobram evidências de que um filhote que se mostre medroso com oito semanas, por exemplo, dificilmente superará o medo na fase adulta.

    El Cerdo
    Ilustração para a coluna Bichos 22/05

    As 18 primeiras semanas são fundamentais. Animais que não são manipulados até os 13 dias podem se mostrar adultos refratários a carinho e desconfortáveis com o toque.

    Está entre a 3ª e a 12ª semanas a fase de intensa socialização e aprendizado. A falta de exposição a humanos, a outros cães (vacinados, claro) e até a outras espécies pode gerar indivíduos excessivamente medrosos, com reações inesperadas em situações de estresse, comportamentos possessivos ou destrutivos e que não reconhecem regras, como de micção e defecação.

    Depois vem a fase das brincadeiras, quando o animal passa a explorar o ambiente, identificar riscos e aprender com erros. Reprimi-lo significa criar adultos que não sabem interagir (agressivos) e que não sabem lidar com ambientes novos.

    Não estamos falando de humanos. Em cães e gatos, o comportamento se molda à medida que o encéfalo amadurece. Qualquer semelhança não é coincidência.

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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