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    Silvia Corrêa

    Não compre papagaio achando que ele vai falar

    13/08/2017 02h01

    Rodrigo Fortes
    ilustração de Rodrigo Fortes para a coluna Bichos de 13/8

    Minha caixa de entrada ficou movimentada nos últimos dias: leitores queriam saber sobre como treinar um papagaio para seguir os passos de Jonathan, o papagaio cinza africano que reconheceu, no mês passado, uma imagem bidimensional (foto, desenho) por meio digital (Skype). Escrevi sobre isso na semana passada (6/8).

    Fiquei angustiada. Jonathan é, sem dúvida, sensacional. Mas há dois pontos que merecem atenção. Primeiro: a exemplo das pessoas, os animais são diferentes entre si e apresentam habilidades individuais. Segundo: o ambiente precisa permitir que eles desenvolvam tais habilidades.

    Quando foi comprado pelo empresário Maurício Catelli, 50, Jonathan tinha dez meses e era um papagaio calado. O empresário chegou a achar que a ave era muda. Estava enganado, mas poderia não estar.

    Catelli tem três papagaios cinza: Kate, Jonathan e Dudu. Kate é mais velha, chegou primeiro, mas quase não fala. "Ela ensinou Jonathan a falar "apple" (maçã, em inglês), mas não demonstra motivação para aprender outras palavras", diz Catelli. "Em compensação, aprende muito rápido a obedecer comandos de movimento, como abrir asas e entrar em caixas de transporte. E tem muita habilidade de imitar sons de alarmes, buzinas e apitos do microondas."

    Os três dividem com outros dois papagaios menores e duas ararajubas um viveiro de 40m2 que tenta mimetizar um ambiente natural e tem brinquedos à vontade, trocados semanalmente. Podem voar dentro do recinto e na sala da casa da família. Jonathan passa por treinos diários, duas vezes ao dia que são interrompidos antes de ele dar sinais de desinteresse, para não desmotivá-lo.

    Nessas condições e após três anos e meio de treinamento, ele tem um vocabulário de cerca de 50 palavras, reconhece materiais, cores e objetos. Kate, por sua vez, tem o mesmo estímulo ambiental, mas prefere fazer suas acrobacias e imitações. Portanto, não compre papagaio achando que ele vai falar. É simples (simples?) assim!

    sílvia corrêa

    Formada em jornalismo e veterinária. Atuou por 13 anos na Folha. Co-autora de 'Medicina Felina Essencial' (Equalis) e 'A Caminho de Casa' (Ed. de Janeiro). Escreve aos domingos.

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